Preparem-se: o silêncio nas relações entre Brasil e Israel está prestes a ganhar um eco ensurdecedor. Não é um rompimento formal, mas é quase tão simbólico quanto: pela primeira vez em anos, a embaixada de Israel em Brasília ficará sem chefe de missão e não por falta de candidato.
O atual embaixador, Daniel Zonshine, encerra sua missão no Brasil e se aposenta, deixando para trás um cargo estratégico no olho do furacão geopolítico. Desde 2021, Zonshine navegou em águas turbulentas, especialmente após as declarações incendiárias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra contra o Hamas declarações que foram recebidas em Israel como ofensa histórica, e não mera crítica diplomática.
Israel já escolheu o substituto: Gali Dagan, ex-embaixador na Colômbia, diplomata experiente e respeitado. Foi indicado em janeiro. Mas aqui está o nó político: o governo brasileiro simplesmente não aprovou o agrément a permissão formal para que ele assuma.
Traduzindo para o mundo real: é como deixar o telefone vermelho fora do gancho durante uma crise. Na diplomacia, um posto de embaixador vazio não é um detalhe burocrático; é um recado. E neste caso, o recado é claro: Brasília não está com pressa para manter a ponte direta com Jerusalém.
Oficialmente, a embaixada continuará funcionando sob comando interino. Mas no xadrez internacional, não ter um embaixador é como mandar um time para a final sem capitão. É um enfraquecimento calculado, que serve para marcar posição política mas que também deixa o Brasil exposto ao risco de perder influência e canais de diálogo justamente quando o cenário no Oriente Médio exige agilidade e inteligência estratégica.
O gesto também diz muito sobre o momento político de Lula: o presidente aposta em uma narrativa global na qual Israel é o vilão e o Brasil, o “porta-voz da paz” mesmo que, para isso, precise se alinhar retoricamente com países e líderes que jamais levantaram a voz contra o terrorismo do Hamas. A não aprovação de Dagan é, portanto, mais do que um atraso: é um ato de política externa com assinatura ideológica.
Enquanto isso, quem comemora é a turma que prefere um Brasil distante de Israel. Quem perde? Não apenas os dois países, mas também a comunidade judaica brasileira e todos que entendem que diplomacia se faz com pontes, não com lacunas.
Se nada mudar nos próximos dias, prepare-se: o vazio na embaixada será a imagem perfeita da atual política externa brasileira repleta de discursos inflamados, mas carente de presença real onde importa.
Mila Schneider Lavelle é jornalista com formação também em teologia e especialista em Marketing, tendo atuado como Head Manager de grandes projetos internacionais e nacionais. Reconhecida por sua análise crítica e estilo incisivo, é também influenciadora digital, com ênfase em geopolítica e temas internacionais, sobretudo ligados ao Oriente Médio.