Em maio de 2010, durante seu segundo mandato, Lula desembarcou em Teerã para o que seria vendido como um ato de mediação diplomática, mas que rapidamente foi interpretado como um gesto simbólico de chancela ao regime dos aiatolás. Na capital iraniana, Lula se reuniu com o então presidente Mahmoud Ahmadinejad e com o próprio Aiatolá Ali Khamenei, líder supremo da república islâmica. O motivo oficial era a tentativa de intermediar um acordo nuclear, ao lado da Turquia. O pano de fundo, no entanto, deixava clara uma aposta do petista num mundo multipolar onde o Irã acusado de abrigar milícias e alimentar projetos atômicos com finalidades bélicas pudesse ser legitimado na arena global.
Mais de uma década depois, em agosto de 2023, já em seu terceiro mandato, Lula voltou a se encontrar com lideranças iranianas dessa vez, com o presidente Ebrahim Raisi, durante a Cúpula dos BRICS em Joanesburgo. O contexto agora era outro: o Irã acabara de ser aceito no bloco liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Raisi foi recebido com reverência, e Lula não apenas celebrou a entrada de Teerã na aliança estratégica, como exaltou os laços comerciais entre os dois países, colocando o Irã como um dos principais destinos de exportações brasileiras no Oriente Médio.
Ambos os episódios ocorreram longe das câmeras brasileiras mas não longe da realidade que o Brasil, sob o atual governo, escolheu trilhar. Embora não haja provas de encontros secretos em Brasília, os acenos públicos e explícitos a regimes autoritários como o iraniano não são novos. O que chama atenção é o silêncio cúmplice de parte da imprensa nacional, que parece ignorar os sinais de alinhamento diplomático com países que perseguem mulheres, silenciam opositores e financiam o terror.
Enquanto o mundo acompanha com horror os crimes de guerra cometidos pelo Hamas em Gaza e a atuação agressiva do Irã no tabuleiro geopolítico global, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece seguir uma lógica própria a lógica da opacidade diplomática, que beira a conivência.
De acordo com o site iranpress.com, representantes de alto escalão do regime iraniano desembarcaram discretamente em Brasília, sem constar em nenhuma agenda oficial do Itamaraty, nem tampouco nos comunicados da Presidência da República. Nenhuma coletiva. Nenhuma nota à imprensa. Nenhuma menção.
Mas o que Lula e seus diplomatas não previam é que a própria mídia estatal do Irã se encarregaria de fazer o anúncio com orgulho. Em reportagens exibidas pela IRNA e outros veículos alinhados ao regime dos aiatolás, reuniões com figuras do governo brasileiro foram amplamente noticiadas com fotos, nomes e sorrisos discretos em tapetes vermelhos.
Ou seja: o que Lula escondeu dos brasileiros, o Irã fez questão de escancarar ao mundo.
O que o Irã quer com o Brasil e por que agora?
O Irã, que enfrenta sanções internacionais e acusações severas de financiamento ao terrorismo, vê no Brasil lulista um parceiro estratégico para legitimar sua atuação diplomática em plena guerra por narrativas.
Segundo fontes do Oriente Médio, há negociações em curso para acordos comerciais bilaterais que driblam embargos, além de possíveis colaborações tecnológicas e até articulações em foros internacionais como a ONU e o BRICS.
Mais grave ainda: relatos indicam que o Irã tem pressionado o Brasil a adotar posições cada vez mais hostis a Israel nos bastidores da ONU, oferecendo em troca apoio político e acesso privilegiado a mercados “alternativos”.
Por que Lula esconde?
A pergunta que grita é simples: por que esconder reuniões diplomáticas com um dos regimes mais radicais do planeta?
A resposta é tão perturbadora quanto evidente: porque o teor dessas reuniões não suporta o escrutínio público.
A aliança ideológica entre Lula e regimes antiocidentais já não é novidade. Mas agora, com centenas de reféns ainda nas mãos do Hamas grupo sustentado pelo Irã e Israel enfrentando uma guerra brutal contra o terror jihadista, qualquer gesto de proximidade com Teerã configura uma traição moral à civilização democrática e um tapa na cara das vítimas do 7 de outubro.
Onde está a imprensa brasileira?
Curiosamente, nenhum grande jornal brasileiro deu manchete sobre o caso. O silêncio ensurdecedor da mídia nacional levanta sérias suspeitas sobre a seletividade editorial dos veículos que costumam alardear qualquer deslize diplomático de países como Israel ou Estados Unidos, mas tratam o Irã com luvas de veludo.
Será conivência? Ignorância? Ou medo de confrontar o atual governo com fatos incômodos.
Enquanto isso, a imprensa iraniana não apenas cobriu os encontros, como exaltou Lula como “um líder que compreende os ventos do Sul Global” em uma tentativa clara de cooptá-lo para seu eixo de influência.
O Brasil está se tornando cúmplice?
Com esta visita secreta, o governo Lula entra definitivamente em uma zona cinzenta diplomática, flertando com a legitimidade de um regime que prende mulheres por não cobrirem o cabelo, que mata dissidentes, e que financia milícias que juraram destruir Israel.
Não se trata de paranoia. Trata-se de responsabilidade histórica.
Ao receber o Irã em silêncio, Lula trai a confiança dos brasileiros, ataca os princípios da diplomacia transparente e se posiciona mesmo que dissimuladamente ao lado errado da história.
Segundo o site oficial do Ministério das Relações Exteriores do Irã (MFA):
• Uma outra reunião ocorreu no dia 13 de julho de 2025, em Teerã.
• O embaixador brasileiro iniciou sua missão diplomática ao apresentar suas credenciais ao chanceler iraniano, Seyed Abbas Araghchi
A pergunta agora é: O congresso, a imprensa e a sociedade civil vão permitir esse jogo de sombras? Ou vamos exigir luz sobre o que se passa nos salões fechados de Brasília.
Mila Schneider Lavelle é jornalista com formação também em teologia e especialista em Marketing, tendo atuado como Head Manager de grandes projetos internacionais e nacionais. Reconhecida por sua análise crítica e estilo incisivo, é também influenciadora digital, com ênfase em geopolítica e temas internacionais, sobretudo ligados ao Oriente Médio.
LUIZ EDUARDO DE ARRUDA 29/07/2025
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