O policial militar Ricker Maximiano de Moraes, acusado de assassinar a esposa e de uma tentativa de homicídio contra um adolescente, tenta convencer o Tribunal de Justiça de Mato Grosso a transferir o julgamento marcado para 8 de julho, em Cuiabá.
A defesa alega que o clima na capital tornou impossível um julgamento justo, diante do que classifica como um "linchamento virtual" que estaria a comprometer a imparcialidade dos jurados.
O PM será julgado pela tentativa de homicídio de um jovem de 17 anos, ocorrida em junho de 2018, quando, segundo o Ministério Público, disparou contra o rapaz após este e outros amigos presenciarem uma discussão entre o policial e sua então namorada.
A vítima foi atingida nas nádegas, sofreu ferimentos graves e hoje convive com sequelas irreversíveis.
O caso voltou ao centro da atenção pública após Ricker ser preso no mês passado, acusado de matar sua esposa, Gabrieli Daniel de Souza, de 31 anos, com três tiros à queima-roupa dentro da casa onde viviam, no bairro Praeirinho.
O crime foi cometido na presença dos dois filhos do casal, de três e cinco anos. Depois do assassinato, o PM fugiu com as crianças, abandonou-as na casa do pai, entregou a arma do crime e, mais tarde, apresentou-se à Polícia.
Diante da repercussão dos fatos, a defesa anexou aos autos inúmeras capturas de comentários em redes sociais e em portais de notícias, onde a população expressa indignação e revolta, usando expressões como “monstro”, “não merece defesa” e “tem que morrer”. Segundo os advogados, essas manifestações refletem um ambiente hostil que compromete diretamente a isenção do júri.
Os defensores afirmam que o risco não se limita a uma decisão contaminada, mas também à integridade física do réu, dos advogados e dos seus familiares, caso o julgamento permaneça em Cuiabá.
Por isso, pedem que o processo seja transferido para a Comarca de Rosário Oeste, cidade com menor visibilidade midiática, onde acreditam que será possível assegurar os princípios constitucionais do devido processo legal e da ampla defesa.
O Ministério Público ainda será ouvido antes de o Tribunal decidir se aceita ou não a transferência do julgamento.
O caso continua a gerar intensa comoção social e levanta debates sobre os limites da opinião pública, os riscos dos julgamentos populares sob forte pressão social e a garantia de um julgamento justo, mesmo para acusados de crimes brutais.