No silêncio frio de um vulcão adormecido na Indonésia, uma voz brasileira clamava por socorro. Juliana Marins, de apenas 26 anos, caiu durante uma trilha no Monte Rinjani, em Lombok, e ficou por dias lutando pela própria vida. Ela foi localizada com vida por drones, ouviam-se seus gritos. Mas a ajuda… nunca chegou a tempo.
O que se seguiu foi um dos episódios mais vergonhosos da diplomacia brasileira recente: a omissão dupla. Primeiro, da Indonésia, que falhou em executar um resgate emergencial mesmo tendo a localização exata da vítima. Depois, do Brasil, seu próprio país, que manteve um silêncio ensurdecedor enquanto uma cidadã brasileira morria em câmera lenta no outro lado do mundo. O corpo dela foi localizado e resgatado por voluntários apenas no dia 24 de junho de 2025.
Enquanto hospitais públicos colapsam e brasileiros aguardam meses por cirurgias, o governo federal destinou impressionantes R$ 80,4 milhões para operações da Força Aérea Brasileira (FAB) no Oriente Médio com foco em missões de repatriação que incluíram não apenas brasileiros, mas também familiares palestinos sem qualquer vínculo oficial com o Estado brasileiro.
De acordo com os dados oficiais, o valor inclui combustível, manutenção das aeronaves, deslocamento de tripulações, equipamentos de apoio e estrutura diplomática nos países de origem. Estima-se que, se o governo tivesse optado por voos comerciais, o custo seria de cerca de R$ 21,7 milhões, quase um terço do valor gasto.
É legítimo ajudar em tempos de guerra. Mas quando o governo brasileiro prioriza estrangeiros enquanto cidadãos brasileiros, como Juliana Marins, morrem no abandono longe de casa, sem qualquer suporte para o translado de seus corpos o gesto deixa de ser apenas diplomático. Ele se torna uma denúncia de prioridades distorcidas.
Juliana não teve direito à mesma prioridade dada a familiares de palestinos que foram resgatados de Gaza com recursos do Estado brasileiro. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a FAB a Força Aérea Brasileira a usar uma aeronave presidencial para buscar palestinos sem nacionalidade brasileira, sob o argumento de laços familiares com brasileiros. O gesto humanitário teve ampla divulgação na imprensa internacional.
Mas quando uma brasileira de verdade com CPF, RG, passaporte e sonhos interrompidos precisou de apoio até no translado de seu corpo para casa, o que ela recebeu foi silêncio.
Quem estendeu a mão foi o ex-jogador Alexandre Pato, que, sensibilizado, se ofereceu para cobrir os custos que o governo brasileiro se recusou a assumir. Não era dever do Estado pagar? Não. Mas a pergunta que ecoa como o vento entre as crateras é: E a empatia, onde está? Um gesto de solidariedade que revelou, mais do que generosidade pessoal, a indiferença estatal. Não é dever de Pato. É empatia. Algo que falta ou melhor, desapareceu deste governo.
A família de Juliana denuncia negligência no resgate. Acusa o governo indonésio de encenação vídeos falsos de equipes levando alimentos e suprimentos foram divulgados como parte de uma narrativa oficial que não condiz com a realidade. A jovem morreu porque ninguém teve coragem de se comprometer. Nem a Indonésia, nem o Brasil.
Juliana morreu como muitos morrem neste país simbólico chamado “Descaso”: gritando por socorro e recebendo protocolo. A família dela não pôde sequer fazer o luto em paz, estão lidando com a burocracia pelo direito de enterrar sua filha.
Enquanto isso, o governo federal segue engajado em uma diplomacia seletiva, generosa com palestinos e insensível com os brasileiros. O mesmo governo que nunca cogitou usar um avião da FAB para buscar o corpo de Juliana foi o primeiro a enviar recursos para zonas de conflito sob domínio do Hamas, sem rastreabilidade ou prestação de contas.
Famílias palestinas desembarcando em solo brasileiro após o resgate com o avião da FAB um símbolo de acolhimento nacional que não foi estendido a Juliana.
Juliana não foi vítima apenas de uma queda. Ela foi vítima de uma série de negligências:
Da agência de turismo que a deixou para trás.
Do governo indonésio que que à ignorou e a deixou para morrer.
E do abandono do governo do seu próprio país.
Não é só sobre ela.
É sobre o que nos tornamos: Um país onde vidas brasileiras valem menos do que a conveniência política.
Enquanto isso, o mesmo governo que chora lágrimas diplomáticas por outras nações, se recusa a secar as lágrimas das famílias brasileiras. O mesmo governo que financia ideologias longe de casa, falha ao honrar a memória de uma brasileira que morreu de uma forma dolorosa e trágica.
Juliana Marins acreditava no Brasil. Apoiava o governo Lula. Votou com esperança, confiando que um país mais humano também cuidaria dos seus. Mas quando ela mais precisou caída em um vulcão na Indonésia, sozinha, ferida, gritando por socorro foi deixada para morrer no silêncio.
E não se trata de logística: A esposa do presidente, Janja, usa o mesmo avião presidencial para visitas pelo mundo sem que ninguém questione os custos. Mas para trazer o corpo de uma brasileira? Silêncio absoluto.
O nome disso não é diplomacia. É abandono. Juliana gritou por socorro. Foi ouvida. Mas o Brasil fez silêncio. Enquanto palestinos foram resgatados com avião da FAB, o corpo de uma brasileira ficou abandonado na Indonésia. Isso te parece justo?
Juliana poderia ser sua filha. Sua irmã. Sua amiga. Ela era brasileira. E foi esquecida.
Não devemos esquecer jamais: Lula virou as costas para Juliana.
E ela poderia ter sido eu.
Poderia ter sido você.
A pergunta que fica: Por que o mesmo governo que bancou resgates milionários com avião presidencial não moveu um dedo para trazer de volta uma filha do Brasil que morreu sozinha em um vulcão?
A resposta ainda não chegou. Assim como o socorro a Juliana.
Mila Schneider Lavelle é jornalista com formação também em teologia e especialista em Marketing, tendo atuado como Head Manager de grandes projetos internacionais e nacionais. Reconhecida por sua análise crítica e estilo incisivo, é também influenciadora digital, com ênfase em geopolítica e temas internacionais, sobretudo ligados ao Oriente Médio.