O Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) está no centro de uma inspeção rigorosa conduzida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), sob o comando do ministro Mauro Campbell, também integrante do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A operação ocorre enquanto avança a investigação da Operação Sisamnes, que apura um complexo esquema de venda de sentenças envolvendo magistrados, servidores, advogados e lobistas.
O ambiente no tribunal é de extrema apreensão. A inspeção acontece após o afastamento dos desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, além do juiz Ivan Lúcio do Amarante, por suspeitas de participação no esquema.
As investigações, que tiveram origem no brutal assassinato do advogado Roberto Zampieri, em 2023, revelaram conexões surpreendentes com gabinetes do STJ, onde servidores são acusados de intermediar decisões judiciais.
O caso ganhou dimensão nacional. Mensagens encontradas no celular de Zampieri, assassinado com dez tiros na porta do seu escritório em Cuiabá, ligam o nome do desembargador Sebastião a supostos pagamentos de propina.
A Polícia Federal também mapeou a atuação do lobista Andreson Oliveira Gonçalves, preso em Brasília, que estaria no centro das negociações ilegais e já sinalizou, por diversas vezes, a possibilidade de firmar uma delação premiada que pode abalar estruturas do Judiciário e da política em vários estados.
A Operação Sisamnes, que já teve oito fases, revelou que o esquema não se limita a Mato Grosso. As ramificações atingem Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pará e, principalmente, a Bahia, onde a Operação Faroeste levou ao afastamento de magistrados e revelou práticas semelhantes.
Em nota oficial, o presidente do TJMT, desembargador José Zuquim, afirmou que a Corte recebe a inspeção do CNJ com tranquilidade e que confia no trabalho dos magistrados, destacando que os casos sob investigação são "exceções". Contudo, nos bastidores, o sentimento é de tensão.
Isso porque, embora o cronograma oficial contemple a visita a gabinetes específicos, não está descartada a possibilidade de a inspeção atingir todos os 39 gabinetes de desembargadores.
As investigações também apontam para a ligação do caso com a empresa de gestão patrimonial Fource, envolvida na recuperação judicial da Bom Jesus Agropecuária, que acumula dívidas superiores a R$ 2,6 bilhões. Mensagens interceptadas sugerem pagamentos de R$ 200 mil ao filho de um desembargador, em meio a tratativas judiciais.
Enquanto o Judiciário tenta se defender das acusações e colaborar com a apuração, o mundo político mato-grossense também vive seu próprio turbilhão. O procurador Mauro, sem jamais ter vencido uma eleição, confirma sua candidatura pela décima vez no estado.
No Congresso, o PL se movimenta para barrar a nomeação da Coronel Fernanda como relatora da CPMI do INSS, alegando que a parlamentar não tem preparo técnico para a função.
Em meio a tantas crises, ao menos uma boa notícia veio dos campos: o presidente da CBF classificou como "exemplar" o desempenho da seleção brasileira no Mundial, trazendo um alívio momentâneo para os brasileiros.