O economista Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e um dos nomes mais respeitados na área econômica do país, voltou ao debate público com críticas incisivas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à revista Veja, Fraga afirmou que o atual governo “não apresenta um caminho para o país” e propôs uma medida polêmica: o congelamento do salário mínimo, corrigindo-o apenas pela inflação, durante seis anos.
Segundo o economista, a proposta tem como objetivo aliviar a pressão sobre o orçamento público, já que benefícios como aposentadorias e o BPC (Benefício de Prestação Continuada) estão atrelados ao valor do salário mínimo. “A ideia é ganhar tempo para avançar em reformas estruturais”, justificou.
Apesar de ter declarado voto em Lula no segundo turno da eleição de 2022 — decisão que surpreendeu parte do meio político —, Fraga diz que nunca esperou grandes avanços econômicos do petista. Agora, no terceiro mandato, ele se diz decepcionado. “Eu não votei esperando um paraíso econômico, mas esperava um pouco mais. O Lula 1 foi muito bom; o Lula 2, nem tanto, mas ainda funcionou. Agora, vejo um governo perdido.”
Críticas ao arcabouço fiscal e aumento do IOF
Fraga também avaliou que o chamado “arcabouço fiscal” proposto pelo governo fracassou parcialmente. “Foi um bom ponto de partida, mas insuficiente. A situação fiscal está pegando fogo”, afirmou. O economista advertiu que a pressão por gastos tende a aumentar, especialmente em 2025 — ano eleitoral — e que 2027 já se anuncia como um período difícil.
Outra crítica contundente foi direcionada ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Para ele, a medida foi “desastrosa” e revela a insistência do governo em buscar soluções por meio da arrecadação. “Sem encarar o lado dos gastos, o Brasil vai desperdiçar uma enorme chance de crescer mais.”
Cenário internacional e a volta de Trump
Fraga também comentou o possível retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Para ele, o Brasil precisa estar preparado para lidar com mais quatro anos de turbulência global. “Vivemos um momento de transição, com novas hegemonias e tensões geopolíticas. O Brasil precisa navegar com habilidade e lembrar que é um país ocidental.”
Mesmo diante das críticas, Fraga reforçou que não se arrepende do voto em Lula. “Dar um segundo mandato a Bolsonaro seria uma temeridade. Mas o governo atual precisa assumir sua responsabilidade e parar de culpar os outros”, concluiu.
