Na fronteira entre Egito e Gaza, um fluxo contínuo de homens exaustos caminha sob o sol escaldante, muitos com caixas de papelão empilhadas sobre a cabeça caixas que, para milhares de famílias, representam a única esperança concreta de sobrevivência em meio ao colapso humanitário da Faixa de Gaza.
Segundo relatório divulgado na última quinta-feira 30 de junho, a Gaza Humanitarian Foundation (GHF) afirma ter ultrapassado a marca de 2.170.822 refeições distribuídas em apenas quatro dias, desde que iniciou sua operação emergencial para socorrer civis afetados pelo conflito na região.
De acordo com a fundação, a distribuição foi realizada através de aproximadamente 23.040 caixas de ajuda alimentar, sendo cada uma delas capaz de prover três refeições diárias, durante quatro dias, para uma família de cinco pessoas. O centro logístico de Tel Sultan, localizado junto à fronteira com o Egito, se destacou como ponto-chave: apenas nesta quarta-feira, seis caminhões cruzaram o posto com 5.760 caixas, o equivalente a 332.640 refeições entregues em 24 horas.
O dado impressiona pela escala e agilidade logística, considerando as severas restrições de acesso, o colapso de infraestrutura local e o contexto de insegurança generalizada que afeta a região desde outubro de 2023.
A GHF, que tem operado em coordenação com parceiros egípcios e com aval limitado de autoridades internacionais, afirmou que não houve incidentes de segurança nas últimas 24 horas, fator considerado determinante para o sucesso da operação do dia.
Uma multidão caminha em meio à poeira, carregando os pacotes de ajuda em silêncio. A maioria são homens, muitos com expressões de exaustão e alívio. Em destaque, um homem eleva a caixa marcada com o logotipo da GHF como se sustentasse, além de alimentos, a responsabilidade de proteger sua família.
Desafio persistente
Apesar do feito, especialistas humanitários alertam que a crise em Gaza exige muito mais do que alimentos de emergência. Com hospitais colapsados, água potável escassa e milhares de civis desalojados, o desafio da reconstrução e do socorro contínuo é de longo prazo.
Organizações internacionais têm alertado para a urgência de um cessar-fogo duradouro algo que Hamas não tem aceitado , mesmo depois de tantas tentativas de acordo . Gaza precisa de uma abertura de corredores humanitários consistentes e neutros, que permitam o fluxo irrestrito de alimentos, medicamentos e combustível para dentro do território.
Enquanto isso, para as famílias que hoje conseguem aquecer uma refeição após dias mergulhados na fome e no desespero, cada caixa entregue representa mais do que alimento: é um respiro de dignidade em meio ao colapso humanitário que o Hamas impôs à própria população palestina.

Mila Schneider Lavelle é jornalista com formação também em teologia e especialista em Marketing, tendo atuado como Head Manager de grandes projetos internacionais e nacionais. Reconhecida por sua análise crítica e estilo incisivo, é também influenciadora digital, com ênfase em geopolítica e temas internacionais, sobretudo ligados ao Oriente Médio