O calendário judaico nos convida a viver uma das festas mais antigas e simbólicas da tradição judaica: Pessach, também conhecido como Passover. Porém, todos os anos, é comum vermos a mesma confusão: matérias e até livros didáticos descrevendo a data como a “Páscoa Judaica”.
A Origem Judaica: Pessach, a Festa da Liberdade
Pessach também conhecido como Passover é uma das festas mais antigas do mundo ainda celebradas anualmente. De acordo com a Torá (o livro sagrado judaico), ela marca a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, sob a liderança de Moisés.
O nome “Pessach” vem da palavra hebraica que significa “passar por cima” (pasach), em referência ao episódio em que os lares dos hebreus foram poupados da décima praga a morte dos primogênitos durante a noite em que os egípcios foram atingidos. Esse evento foi o gatilho para a libertação e o início do Êxodo rumo à liberdade.
O que realmente é Pessach?
Pessach é a festa que marca a saída do povo judeu da escravidão no Egito — um dos momentos mais importantes da história judaica. Segundo a Torá, após gerações de opressão, D’us envia Moisés para libertar os hebreus. Após as famosas dez pragas, o faraó finalmente permite que eles partam, iniciando uma longa jornada de travessia pelo deserto em direção à liberdade.
Essa libertação não é vista apenas como um evento histórico, mas como o nascimento espiritual do povo judeu. É nesse momento que os hebreus deixam de ser apenas uma massa de escravos e se tornam um povo com identidade, fé e propósito coletivo.
Durante os oito dias de Pessach (sete em Israel), não comemos alimentos fermentados, fazemos o Seder um jantar ritual cheio de significados e nos dedicamos a recontar a história da libertação. Cada símbolo da mesa tem um papel: o osso, o ovo, as ervas amargas, a matzá. Tudo é memória viva.

Então por que chamam de “Páscoa Judaica”?
A confusão começou com a tradução da Bíblia Hebraica para o grego e o latim, onde a palavra Pessach virou Pascha. Mais tarde, os primeiros cristãos utilizaram esse mesmo termo para designar a festa que celebra a ressurreição de Jesus que, segundo os evangelhos, aconteceu durante a época de Pessach.
A semelhança linguística e a proximidade de datas acabaram levando muita gente a fazer uma equivalência entre as duas festas. Mas, embora compartilhem uma raiz etimológica e estejam conectadas no calendário, os significados são completamente distintos.
Pessach fala da libertação de um povo inteiro, da luta contra a opressão e do valor da memória coletiva. A Páscoa cristã, por sua vez, fala da vitória da vida sobre a morte por meio da ressurreição de Jesus um conceito teológico completamente diferente e específico da fé cristã.
A Páscoa Cristã: Ressurreição, Fé e Redenção
Já a Páscoa cristã tem um enfoque completamente distinto. Ela celebra a ressurreição de Jesus Cristo, que, segundo a fé cristã, ocorreu no terceiro dia após sua crucificação.
Embora a Última Ceia de Jesus tenha ocorrido durante o Pessach (o que cria um elo histórico entre as duas datas), a teologia cristã reinterpreta a ideia de redenção: não como uma libertação física da escravidão, mas como a salvação espiritual da humanidade por meio do sacrifício do “Cordeiro de Deus”.
A simbologia do cordeiro permanece, mas com outro significado. O pão fermentado e o vinho são ressignificados na Eucaristia como corpo e sangue de Cristo. O foco da celebração deixa de ser o passado histórico de um povo e passa a ser a promessa de vida eterna e redenção universal.
Datas Próximas, Propósitos Distintos
Tanto o Pessach quanto a Páscoa acontecem geralmente na mesma época do ano (março ou abril), porque ambas seguem o calendário lunar e estão ligadas ao equinócio da primavera no Hemisfério Norte. Mas seus significados caminham por trilhas muito distintas.
• Pessach é um ato de memória coletiva, uma reafirmação de identidade, uma lição viva sobre resistência, fé e liberdade.
• A Páscoa cristã é um ato de renovação espiritual, de esperança e reconexão com a fé em Cristo ressuscitado.
Então por que chamam de “Páscoa Judaica”?
A confusão começou com a tradução da Bíblia Hebraica para o grego e o latim, onde a palavra Pessach virou Pascha. Mais tarde, os primeiros cristãos utilizaram esse mesmo termo para designar a festa que celebra a ressurreição de Jesus que, segundo os evangelhos, aconteceu durante a época de Pessach.
A semelhança linguística e a proximidade de datas acabaram levando muita gente a fazer uma equivalência entre as duas festas. Mas, embora compartilhem uma raiz etimológica e estejam conectadas no calendário, os significados são completamente distintos.
A expressão “Páscoa Judaica” foi popularizada por tradutores cristãos da Bíblia, a partir da Vulgata Latina, onde Pessach foi traduzido como Pascha a mesma palavra usada para a Páscoa cristã. Esse termo se espalhou pela Europa e, ao longo dos séculos, foi ensinado como sinônimo nos países de tradição cristã, inclusive no Brasil.

A pronúncia mais próxima do hebraico é:
“Pêssarrr”, com um som gutural no final, como o “ch” do alemão ou o “j” espanhol de “José”.
Mas no Brasil, é totalmente aceitável (e comum) dizer:
“PÊ-ssac” ou “PÊ-ssar”
(com o “ch” final soando como “k” ou “r” suave — o gutural não é obrigatório para quem não está acostumado.
Mila Schneider Lavelle é jornalista com formação também em teologia e especialista em Marketing, tendo atuado como Head Manager de grandes projetos internacionais e nacionais. Reconhecida por sua análise crítica e estilo incisivo, é também influenciadora digital, com ênfase em geopolítica e temas internacionais, sobretudo ligados ao Oriente Médio.
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