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ARTIGOS Domingo, 22 de Junho de 2025, 09:54 - A | A

Domingo, 22 de Junho de 2025, 09h:54 - A | A

Por Frederico Müller Coutinho

O Irã e a Hipocrisia dos que Demonizam Israel e os EUA


Diante do recrudescimento do conflito no Oriente Médio, é inevitável observar a onda de comoção seletiva que se levanta em defesa do regime iraniano, muitas vezes acompanhada de uma demonização cega aos Estados Unidos e a Israel. Porém, quem se apressa em apontar o dedo para as democracias ocidentais precisa, antes, conhecer os fatos que definem a essência do regime teocrático que governa o Irã desde 1979. É necessário mais que empatia: é preciso lucidez moral.

 

Após a Revolução Islâmica, o Irã foi tomado por um regime xiita teocrático que eliminou as possibilidades de uma democracia plural. As eleições são manipuladas desde sua base: apenas candidatos previamente aprovados por clérigos podem concorrer, opositores são silenciados, presos ou exilados, e qualquer tentativa de contestação pública é esmagada com brutalidade. A liberdade de expressão, imprensa e manifestação são praticamente inexistentes, não estamos falando de críticas nas redes sociais ou resistência artística, mas de prisões arbitrárias, tortura e desaparecimentos.

 

A situação das mulheres é ainda mais alarmante. No país, o valor jurídico do testemunho de uma mulher equivale à metade do de um homem. O uso compulsório do véu islâmico, símbolo da opressão institucionalizada, é rigidamente fiscalizado por uma “polícia da moral”. Foi essa mesma força que prendeu Mahsa Amini, uma jovem que morreu sob custódia em circunstâncias revoltantes, simplesmente por “usar mal o hijab”. Casamentos arranjados, desigualdade na herança e impedimentos sociais fazem parte do cotidiano feminino iraniano.

 

No plano dos direitos civis, o Irã representa tudo aquilo que o Ocidente combate: a homossexualidade é criminalizada com penas que variam de chibatadas à execução. Minorias religiosas e étnicas são discriminadas sistematicamente. Enquanto isso, a religião oficial, o Islamismo Xiita, rege o Estado como uma força absolutista, decidindo desde leis civis até os rumos da política externa.

 

Apesar de possuir vastas reservas de petróleo, o país amarga pobreza e estagnação econômica, resultado da má gestão crônica e de sanções impostas por sua insistência em desenvolver tecnologia nuclear com fins suspeitos. O discurso de “uso pacífico” não convence nem seus próprios vizinhos árabes, com quem o Irã mantém rivalidades inflamadas por sectarismo religioso e disputa geopolítica.

 

Curiosamente, embora esteja no coração do Oriente Médio, o Irã não é um país árabe. Sua identidade persa milenar é distinta e, em muitos momentos, usada como instrumento de superioridade cultural frente aos vizinhos. Ainda assim, mesmo com tamanha riqueza histórica, o país mergulhou num projeto político regressivo, baseado em intolerância, repressão e autoritarismo.

 

É legítimo e necessário criticar excessos de qualquer Estado, inclusive os de Israel e dos EUA. Contudo, tratar o Irã como vítima inocente, ignorando seu histórico de violações sistemáticas de direitos humanos, é não apenas intelectualmente desonesto, mas moralmente cúmplice. Defender o povo iraniano não significa defender seus opressores.

 

O Ocidente, com todos os seus defeitos, é ainda o território onde liberdade, pluralismo e respeito à dignidade humana são, ao menos, ideais perseguidos. O mesmo não se pode dizer de um regime que enforca homossexuais, prende mulheres por não cobrirem o cabelo e persegue dissidentes como criminosos. Que não se inverta a lógica moral: autoritarismo não vira virtude só porque se opõe aos Estados Unidos.

 

Enquanto muitos gritam “fora imperialismo”, o verdadeiro clamor deveria ser: fora os que oprimem o próprio povo em nome de Deus, ideologia e poder absoluto.


Comendador Frederico Müller Coutinho é presidente do Grupo Müller-Coutinho, CEO do jornal Folha do Estado e articulista em temas de política, economia, sociedade e pregador cristão 

 

 

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