O novo tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump — que eleva para até 145% as alíquotas sobre produtos chineses — movimentou o mercado internacional e acendeu um alerta importante: o Brasil pode se consolidar ainda mais como principal fornecedor de soja à China.
A avaliação é do presidente da Aprosoja Mato Grosso e vice-presidente da Aprosoja Brasil, Lucas Costa Beber, que vê no conflito comercial uma janela estratégica para o agronegócio brasileiro. No entanto, ele ressalta: para que essa oportunidade se converta em crescimento concreto, os produtores rurais — especialmente pequenos e médios — dependem de um Plano Safra 2025/2026 que garanta condições reais de competitividade.
Soja brasileira no radar chinês
Atualmente, a China representa 52% das exportações brasileiras de soja. Em meio à guerra tarifária entre Pequim e Washington, esse percentual pode aumentar. Segundo Beber, o Brasil já tem o protagonismo e o potencial produtivo necessário para expandir ainda mais a oferta, inclusive por meio da conversão de áreas de pecuária em lavoura. “Basta ter viabilidade econômica”, afirma.
“Temos que ter cautela, porque o presidente Trump adota essas tarifas altas como estratégia para conseguir uma negociação justa. A qualquer momento pode haver um recuo. Mas, se continuar nesse ritmo, o Brasil pode aumentar seu papel de maior fornecedor de soja para a China”, avalia.
Além disso, a Europa também surge como um possível novo destino da produção nacional, especialmente se as negociações comerciais no continente europeu travarem e a Lei Antidesmatamento não for prorrogada ou flexibilizada. “Caso contrário, a Europa enfrentará inflação alta por falta de abastecimento, já que não poderá comprar alimentos do Brasil”, completa.
Entraves internos ainda limitam o avanço
Apesar das boas perspectivas externas, gargalos internos como a baixa capacidade de armazenagem, logística deficiente e o elevado custo dos insumos continuam travando o avanço da produção nacional. A alta do dólar só agrava o cenário.
Além disso, a política econômica do Governo Federal levanta preocupações. “Fala-se em reduzir tarifas de importação e, ao mesmo tempo, cogita-se taxar as exportações. Isso abre caminho para entrada de produtos subsidiados de outros países, onde os produtores têm acesso a seguros agrícolas robustos e políticas públicas estruturadas”, alerta Beber. “Aqui, ainda lutamos por um seguro rural básico que garanta a renda em caso de frustração de safra.”
A suspensão precoce das linhas de crédito do Plano Safra 2024/2025 — ainda em fevereiro — deixou o setor em alerta. O plano havia sido anunciado como “o maior da história”, mas já esgotou os recursos antes do esperado. Agora, as atenções se voltam para o novo Plano Agrícola e Pecuário 2025/2026, previsto para ser lançado no final de junho.
“Com juros a 14,25%, o produtor rural está desestimulado. Muitos já consideram reduzir o uso de fertilizantes nesta safra, o que pode impactar diretamente a produtividade e até pressionar a inflação dos alimentos”, alerta Beber. “É urgente que o próximo Plano Safra traga juros justos e um seguro rural que cubra ao menos o risco econômico da atividade. Hoje, estamos em clara desvantagem comercial frente aos produtores dos EUA e da Europa.”
Propostas para um agro mais sustentável e competitivo
Em março, a Aprosoja Brasil e a Aprosoja Mato Grosso enviaram ao Ministério da Agricultura contribuições para o Plano Safra 25/26. Entre as propostas, está a criação de linhas de crédito específicas para aquisição de equipamentos de combate a incêndios nas propriedades rurais, além de incentivos financeiros diferenciados para quem adota práticas sustentáveis, como o plantio direto, que contribui para o sequestro de carbono.
“O produtor brasileiro está comprometido com a sustentabilidade. Cabe ao Governo Federal mostrar isso ao mundo e garantir que tenhamos condições de continuar produzindo com responsabilidade. Precisamos de apoio para armazenagem, logística e proteção contra riscos climáticos. Sem isso, perdemos espaço e corremos o risco de precisar importar alimentos futuramente — a preços internacionais”, conclui Beber.