Com os preços do cacau nas alturas e a produção em queda livre, a Páscoa de 2025 escancara um problema que vai muito além dos ovos de chocolate nas prateleiras: o mundo vive a pior crise da história recente do setor, e o Brasil está sentindo seus efeitos no campo, na indústria e no bolso do consumidor.
Só nos três primeiros meses do ano, o valor do cacau saltou quase 190% — reflexo direto do colapso nas safras de Gana e Costa do Marfim, que juntos produzem mais da metade da oferta mundial. A escassez global provocada por doenças, clima instável e envelhecimento das lavouras fez os estoques despencarem, acirrando ainda mais a competição entre países importadores.
No Brasil, os números preocupam. A indústria processadora recebeu apenas 17,7 mil toneladas de cacau no primeiro trimestre de 2025 — uma retração de mais de 67% em relação ao fim de 2024, segundo a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). Para compensar, o país importou quase 20 mil toneladas, mas mesmo assim, terminou o período com um déficit de quase 15 mil toneladas.
A Bahia, maior produtora de cacau do país, enfrentou uma queda brutal: entregou menos de 12 mil toneladas no início do ano — um recuo de 73% em relação ao trimestre anterior. O clima instável afetou o florescimento das lavouras e favoreceu o avanço de doenças como a vassoura-de-bruxa, exigindo um controle fitossanitário mais caro e complexo.
Apesar de o mercado ter antecipado compras para garantir a Páscoa, os reflexos da crise já começaram a chegar às prateleiras. Produtos com alto teor de cacau tendem a ficar ainda mais caros, enquanto os mais populares devem encolher nas porções. A indústria aposta em ajustes de formulação, reduções de gramatura e reformulações para conter os repasses.
Mesmo assim, o aumento de preços já é visível: ovos de Páscoa ficaram, em média, até 20% mais caros em comparação com o ano passado.
O Brasil, que já ocupou o posto de segundo maior produtor mundial, hoje depende das importações para manter sua indústria funcionando. Para mudar esse cenário, especialistas pedem renovação de lavouras, uso de clones mais produtivos e resistentes, incentivo ao crédito rural e expansão da cultura para novas áreas como a Amazônia e o Espírito Santo.