O ex-ministro da Agricultura e ex-deputado federal Neri Geller (Republicanos) rompeu o silêncio sobre a crise em torno da decisão do governo federal de importar 1 milhão de toneladas de arroz. Em entrevista concedida nesta quinta-feira (29), ao programa Roda de Entrevista, Geller criticou abertamente a condução da medida e deixou claro seu distanciamento do atual titular da pasta, o também mato-grossense Carlos Fávaro (PSD).
Ao ser questionado pela jornalista Gleyce Santos sobre sua relação com Fávaro, Geller afirmou que preferia se abster de comentar o vínculo, mas deixou transparecer frustração com a postura do ministro. “Naquele episódio ele foi injusto comigo. Justo comigo, não foi leal”, declarou. Para o ex-ministro, houve um equívoco político grave, motivado por desinformação e pela falta de escuta às equipes técnicas.
Geller foi direto ao classificar como ineficaz a tentativa de conter o aumento do preço do arroz com a importação. “Querer importar 1 milhão de toneladas, no universo de consumo mundial de 780 milhões de toneladas, é querer enxugar gelo. O preço é globalizado. Esquece, isso não resolveria”, afirmou. Segundo ele, essa opinião foi expressa de forma clara durante uma reunião na Casa Civil, e é de conhecimento público.
Sobre a presença de um mato-grossense à frente do Ministério da Agricultura, Geller ponderou que é importante para o estado ter essa representatividade, mas reiterou que o erro político foi cometido.
“Se ele tivesse escutado a equipe técnica, se o presidente da República fosse melhor informado, não teria cometido esse equívoco”, avaliou.
Sem poupar críticas, Geller reforçou sua posição com tranquilidade, ressaltando que suas opiniões são baseadas em fundamentos técnicos e econômicos. “Está muito tranquilo, como elas [as pessoas] vão confiar no povo?”, indagou, fazendo referência à desconfiança gerada entre produtores e consumidores com a decisão de importar arroz em meio à crise climática no sul do país.