Na madrugada de terça-feira (18), uma cena de violência envolvendo membros da própria Polícia Militar chocou os moradores de Brasnorte. Câmeras de segurança de uma conveniência flagraram o momento em que o capitão Cirano Ribas de Paula Rodrigues, de 40 anos, aplicou um golpe conhecido como "mata-leão" em um soldado subordinado, durante uma discussão acalorada. Além da agressão física, o oficial ainda destruiu o telemóvel do colega e, segundo a vítima, proferiu ofensas humilhantes e de teor racista. O capitão acabou detido por uma equipa da própria corporação.
As imagens mostram claramente os dois militares discutindo ao redor de uma mesa no interior do estabelecimento. O soldado, cuja identidade não foi revelada, tentava registar toda a situação com o seu telemóvel. Em determinado momento, o capitão avança agressivamente, aplica a gravata, arranca o telemóvel da mão do subordinado e destrói-o diante de várias testemunhas, incluindo funcionários e clientes que estavam no local. O soldado não reagiu, mas relatou ter sido alvo de insultos racistas e ameaças.
De acordo com o boletim de ocorrência, tudo começou após uma confraternização num moto clube da cidade. O capitão, segundo testemunhas, estava visivelmente embriagado e, de forma hostil, começou a atacar verbalmente o soldado. Entre os insultos proferidos, afirmou que "cachorro e preto senta no chão", obrigando o militar a sentar-se no chão da conveniência diante de outras pessoas. As palavras do comandante foram carregadas de ofensas, inclusive colocando em dúvida a honra da esposa do soldado e sugerindo que o filho recém-nascido do militar poderia ser de qualquer outro homem, menos dele. O irmão da vítima também foi chamado de “corno” durante os ataques.
O episódio ganhou contornos ainda mais graves quando, após retirar a chave do carro do soldado para impedir que ele deixasse o local, o capitão ordenou que ele se dirigisse até a parte de trás do posto de combustíveis, alegando que naquele local não havia câmaras, sugerindo que poderia agir sem ser filmado. Foi nesse momento que deu a ordem para que o soldado se sentasse no chão, afirmando que aquela era a "posição de um cachorro e um preto", antes de partir para a agressão física.
Funcionários do estabelecimento, alarmados com a cena, chamaram outros policiais militares, que chegaram rapidamente, desarmaram o agressor e conduziram-no até a unidade policial. O capitão, que comanda o destacamento de Brasnorte, foi preso e deverá ser transferido para Tangará da Serra, a cerca de 240 km de Cuiabá.
Em depoimento, o soldado manifestou receio de sofrer represálias ou perseguições dentro da corporação, especialmente devido à posição hierárquica do agressor. O caso gerou grande repercussão, tanto pela violência física quanto pelos graves indícios de racismo e abuso de autoridade praticados por um oficial contra um subordinado, fato que agora será investigado pela Justiça Militar e pelas autoridades civis.