O mundo católico amanheceu de luto com a morte do Papa Francisco, aos 88 anos, na manhã desta segunda-feira. E com o luto, inicia-se uma nova fase marcada por incertezas e expectativa: a escolha de quem será o novo líder da Igreja Católica.
O conclave que se aproxima já movimenta os bastidores do Vaticano, reacendendo discussões sobre os possíveis caminhos que a Igreja poderá tomar e quais perfis ganham força para assumir o cargo mais alto do catolicismo.
Conhecido por não seguir os moldes tradicionais, Francisco não deixou um sucessor natural.
Durante seus mais de dez anos de pontificado, o papa argentino redesenhou o colégio cardinalício com nomeações que refletiram sua visão de uma Igreja mais global, menos centrada na Europa e aberta às chamadas periferias do mundo.
Com isso, muitos dos 140 cardeais eleitores sequer se conhecem pessoalmente, tornando a disputa ainda mais imprevisível.
Ainda que não haja favoritos declarados, especialistas indicam que o perfil mais provável será o de um progressista moderado, alguém que possa consolidar o legado reformista de Francisco sem provocar rompimentos com alas conservadoras.
O vaticanista Filipe Domingues, professor em Roma, afirma que Francisco moldou uma ideia de futuro, mas não apontou nomes. "Ele formou um novo cenário, mas não preparou um herdeiro direto. Ninguém sabe quem ele escolheria, justamente porque não há um nome claro."
Dentro desse panorama incerto, alguns cardeais começam a ser comentados nos corredores do Vaticano e por analistas religiosos. O filipino Luis Antonio Tagle, admirado por sua postura pastoral e seu alinhamento com os valores franciscanos, é um dos nomes mais falados.
O português José Tolentino de Mendonça, reconhecido por seu trabalho intelectual e influência cultural dentro da Igreja, também surge como uma possibilidade forte. Há ainda figuras como Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, que ganhou notoriedade pela atuação diplomática e posições inclusivas.
O cardeal espanhol Cristóbal López Romero, com atuação no Marrocos e reconhecido pelo diálogo inter-religioso, também é cogitado. Na Europa, outros nomes ganham força, como o italiano Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, e o francês Jean Marc Aveline.
O maltês Mario Grech, que representa a valorização da sinodalidade promovida por Francisco, é outro nome com prestígio crescente.
No campo mais conservador, o húngaro Péter Erdő e o neerlandês Willem Jacobus Eijk são lembrados, mas analistas veem suas chances com cautela.
Enquanto isso, cardeais africanos como o tanzaniano Portase Rugambwa representam a diversidade que Francisco buscou no colégio cardinalício, embora enfrentem a resistência de setores mais tradicionalistas.
Seja qual for o escolhido, o próximo papa terá o desafio de manter o equilíbrio entre tradição e renovação, num mundo cada vez mais polarizado e complexo.
A Igreja Católica prepara-se para um novo capítulo, e os olhares agora se voltam para o conclave que irá definir não apenas um nome, mas o rumo da fé de mais de um bilhão de fiéis.