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A defesa do tenente-coronel Mauro Cid adotou um tom desafiador e provocativo ao responder às investigações que envolvem seu cliente, acusado de envolvimento em irregularidades durante o governo Bolsonaro.
Em uma declaração contundente à Folha de S.Paulo, o advogado Cezar Bitencourt, responsável pela estratégia jurídica do militar, afirmou: “Dane-se o PGR”, referindo-se ao procurador-geral da República, Paulo Gonet.
O comentário foi feito após a Procuradoria Geral da República solicitar ao Supremo Tribunal Federal a prisão preventiva de Cid, fundamentada em dois episódios considerados suspeitos: a viagem da família do militar aos Estados Unidos no final de maio e a emissão de passaporte português, intermediada pelo ex-ministro Gilson Machado.
Embora a defesa alegue que a viagem tinha o intuito de celebrar o aniversário de 15 anos da sobrinha de Cid, o fato de não haver previsão para retorno levanta suspeitas quanto à real intenção da estadia no exterior.
A justificativa da obtenção de cidadania portuguesa com a emissão de um documento válido até 2035 foi minimizada por Bitencourt, que a classificou como “mero meio de identificação”.
No entanto, o contexto em que o documento foi solicitado coincide com o avanço das investigações, o que levanta questionamentos sobre um possível plano de evasão.
A situação se agrava diante do histórico familiar: parentes próximos de Cid residem nos Estados Unidos, incluindo o pai, que chefiou a Apex em Miami, e o irmão, que vive na Califórnia.
A operação da Polícia Federal que visava prender Cid chegou a ser deflagrada, mas foi suspensa no último instante por decisão do ministro Alexandre de Moraes, que revogou a ordem antes de sua execução.
A defesa, por sua vez, insiste na tese de que o processo não interfere na vida pessoal de Cid, numa atitude que especialistas veem como um desrespeito às instituições e ao devido processo legal.
A condução do caso por parte da defesa de Mauro Cid marca um momento de tensão entre os investigados do entorno bolsonarista e as instituições de justiça brasileiras.
A retórica confrontadora utilizada pelo advogado não apenas ignora os indícios reunidos, como parece desprezar os riscos institucionais de se desacreditar publicamente a atuação do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal.