O mercado de aviação doméstica no Brasil ainda não conseguiu superar os números registrados em 2015, ano em que alcançou o recorde de 96,1 milhões de passageiros transportados. Em 2024, foram contabilizados 93,4 milhões de embarques, número 2,8% inferior ao de uma década atrás, o que evidencia a estagnação do setor ao longo desses anos.
Apesar da recuperação gradual desde a pandemia de covid-19, o setor não conseguiu retomar o patamar histórico. O executivo de uma das principais companhias aéreas do país chegou a afirmar que, anos atrás, seria inimaginável o mercado permanecer praticamente no mesmo tamanho após uma década.
O desempenho atual é resultado de uma série de obstáculos que freiam a expansão da aviação comercial no Brasil. Um dos principais entraves é o elevado índice de judicialização. O país concentra 98,5% de todas as ações judiciais movidas contra companhias aéreas no mundo, com média de 0,52 processos para cada voo realizado, índice dezenas de vezes superior ao de outros países.
Além disso, os custos do setor são altamente dolarizados. Combustível de aviação, leasing de aeronaves e serviços de manutenção seguem cotados em moeda estrangeira, tornando a operação vulnerável à instabilidade cambial.
Outro fator de preocupação para o setor é a carga tributária. A proposta de reforma tributária em debate prevê alíquota de 26,5% sobre o transporte aéreo, o que pode elevar o preço das passagens em até 30%, segundo estimativas do setor. Atualmente, o valor médio de um bilhete doméstico gira em torno de R$ 743.
A concentração do mercado nas mãos de três grandes companhias também limita a competitividade e a oferta de voos, especialmente para cidades de médio e pequeno porte. Mesmo com a abertura de capital estrangeiro no setor, nenhuma nova empresa internacional ingressou no mercado brasileiro nos últimos anos.
Para completar, o setor enfrenta forte concorrência do transporte rodoviário, especialmente em regiões onde a aviação não conseguiu se expandir de forma consistente.
Nos cinco primeiros meses de 2025, houve um crescimento de 8,2% no volume de passageiros transportados em relação ao mesmo período de 2024. Apesar do avanço, o ritmo ainda é insuficiente para romper a barreira histórica de 2015.
A aviação comercial brasileira, portanto, segue diante de um desafio estrutural: crescer de maneira sustentável e competitiva, enfrentando custos elevados, ambiente jurídico hostil e limitações regulatórias. Sem mudanças, o setor corre o risco de permanecer estagnado por mais anos.