A Polícia Federal revelou nesta segunda-feira (20) detalhes de um sofisticado esquema de fraude na campanha eleitoral do atual prefeito de Sorriso, Alei Fernandes (União), envolvendo triangulação financeira, uso de doadores laranjas e indícios de caixa dois.
As investigações são conduzidas no âmbito da Operação Rustius, sob a liderança do delegado federal Tiago Pacheco, que classificou as irregularidades como um claro exemplo de abuso de poder econômico.
Segundo o delegado, Alei teria recorrido a uma empresa para obter um empréstimo acima do limite legal permitido para a campanha municipal de 2024, fixado em R$ 1,035 milhão.
O montante foi supostamente fracionado e repassado a pessoas físicas que realizaram doações oficiais à campanha, escondendo a origem real dos recursos.
“Esse valor foi pulverizado em quantias menores e enviado para contas de laranjas realizarem doações oficiais. O excedente foi utilizado em serviços não contabilizados ou atribuídos às campanhas de vereadores, como forma de driblar a fiscalização”, explicou Pacheco.
A investigação também apurou que diversos cabos eleitorais que atuaram para Alei foram oficialmente registrados nas prestações de contas de candidatos a vereador, compondo o mecanismo de triangulação.
O dinheiro, embora declarado como gasto por outros candidatos, era usado na campanha principal, distorcendo a legalidade do processo.
Outro ponto levantado foi o uso de dinheiro vivo para pagamento de serviços, além da contratação de empresas de dados e pesquisas que não constavam nos registros oficiais. Também foram identificadas doações de pessoas jurídicas, prática vedada pela legislação eleitoral.
Até agora, 17 pessoas foram formalmente indiciadas por crime de caixa dois, com base no artigo 350 do Código Eleitoral, que prevê até cinco anos de reclusão.
A operação teve início em dezembro de 2024, quando foram apreendidos R$ 300 mil em espécie com um dos principais apoiadores da campanha.
As ordens judiciais relacionadas ao caso foram expedidas pelo Juiz Eleitoral de Garantias do Núcleo I do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT).
A PF não descarta novas fases da operação, conforme as apurações avancem.
A defesa do prefeito de Sorriso, Alei Fernandes (União Brasil), afirmou em nota que “tudo não passa de especulação, sem qualquer lastro probatório concreto”.
Leia a nota na íntegra:
NOTA À IMPRENSA
Em respeito ao Poder Judiciário Eleitoral e à legislação processual, a defesa técnica do Prefeito eleito Alei Fernandes e de seu Vice Acácio Ambrosini tem o dever de respeitar o sigilo que foi imposto ao caso.
De toda sorte, diante da manifestação da autoridade policial a respeito de uma cerebrina utilização de laranjas para pulverizar dinheiro alegadamente proveniente de caixa-dois, é necessário pontuar que isso tudo não passa de especulação sem qualquer lastro probatório concreto, especialmente que envolva a participação dos candidatos eleitos.
Há certo tempo que os órgãos de investigação vêm sustentando essa narrativa, sem apresentar elementos concretos de quanto, como e porque recursos ou gastos eleitorais foram empregados na campanha. Tudo isso de maneira espalhafatosa e em prejuízo à condução municipal.
É preciso dizer ainda que toda essa investigação decorre de uma busca de provas exploratória que possuía uma linha investigativa inventada por um PRF filiado ao partido do candidato derrotado Damiani.
É a própria Polícia Federal que afirma: o dinheiro apreendido com Nei Frâncio decorre de transações que remontam ao ano de 2019.
Portanto, tudo que se vê agora é uma vã tentativa de sustentar a natimorta Operação Rustius.
Rodrigo Cyrineu, advogado.