O poder das big techs voltou ao centro do debate político e jurídico nos Estados Unidos. Em meio a crescentes pressões por regulação, a Meta — dona do Facebook, Instagram e WhatsApp — enfrenta um dos processos mais emblemáticos da história recente da tecnologia. No centro da disputa: a possibilidade real de ser obrigada a se desfazer de dois dos seus principais ativos.
O julgamento, iniciado no Tribunal Distrital do Distrito de Columbia, promete movimentar os bastidores do Vale do Silício ao longo de sete a oito semanas. A Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC) acusa a Meta de sufocar a concorrência por meio da prática conhecida como buy or bury — comprar rivais promissores para impedir que se tornem ameaças.
As aquisições do Instagram, em 2012, e do WhatsApp, em 2014, estão na mira da ação. Embora aprovadas à época, a FTC argumenta que os verdadeiros impactos dessas fusões só se tornaram claros com o tempo: consolidação de mercado, queda na inovação e concentração de poder digital em poucas mãos.
Entre os nomes que devem depor estão figuras de peso da gigante de tecnologia, como o CEO Mark Zuckerberg, a ex-COO Sheryl Sandberg e o chefe do Instagram, Adam Mosseri.
Se o tribunal decidir pela cisão dos ativos, o impacto será sísmico. A separação do WhatsApp e do Instagram redefiniria o mapa das redes sociais e abriria um precedente regulatório com reflexos globais.
A Meta rebate as acusações, afirmando que o setor é altamente competitivo e cita TikTok, YouTube, X (ex-Twitter) e até o iMessage como rivais diretos. “As evidências mostrarão o que qualquer jovem de 17 anos sabe: Instagram, Facebook e WhatsApp competem ferozmente com diversos players”, afirmou a empresa em comunicado oficial.
A empresa também criticou a ideia de desfazer aquisições antigas e legalizadas, alegando que isso poderia gerar insegurança jurídica e desestimular investimentos futuros: “Enviaríamos a mensagem de que nenhum acordo está realmente concluído.”
Política nos bastidores
O processo, iniciado em 2020 sob a administração Trump, ganhou novos contornos sob o governo Biden. Agora, com a volta dos republicanos ao poder, a tensão aumenta. Zuckerberg, inclusive, tem se aproximado da Casa Branca: doou US$ 1 milhão para a posse do novo presidente e indicou aliados do governo para cargos estratégicos, como Dana White, presidente do UFC, para o conselho da empresa.
Mesmo assim, a FTC segue firme. Liderada por Andrew Ferguson, indicado pelo próprio Trump, a agência manteve sua postura combativa. Recentemente, a saída de dois comissários democratas levantou suspeitas de interferência política no andamento do caso.
Efeito dominó
Especialistas avaliam que o desfecho desse julgamento pode se tornar um marco na regulação das gigantes da tecnologia. Um resultado favorável à FTC pode acelerar processos semelhantes contra Google, Amazon e Apple. O Google, por exemplo, já foi condenado por monopólio nas buscas online, e o caso segue em apelação.
Por outro lado, uma derrota da Meta levanta um alerta: permitir que fusões legalizadas há mais de uma década sejam desfeitas por pressão regulatória pode abrir um perigoso precedente. Investidores temem que isso gere instabilidade no setor e trave o ritmo das inovações.
O futuro do Instagram e do WhatsApp — e, talvez, de todo o ecossistema digital — pode estar em jogo.