A imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre a carne brasileira começa a mostrar seus efeitos diretos em Mato Grosso.
Frigoríficos voltados à exportação para o mercado norte-americano suspenderam por 30 dias a compra de bovinos, e funcionários serão colocados em férias coletivas nos próximos dias.
A medida é uma tentativa do setor de minimizar perdas e buscar equilíbrio entre oferta e demanda, segundo líderes do agronegócio.
O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Ilson Redivo, confirmou que nenhum frigorífico exportador está adquirindo gado no momento.
"Que eu saiba todos os frigoríficos voltados para exportação suspenderam as compras. Isso afeta diretamente os pecuaristas com boi gordo pronto para abate e gera uma tendência de queda no preço dos animais vivos", afirmou.
Com o bloqueio parcial ao mercado americano, o segundo principal destino da carne mato-grossense, a indústria já enfrenta impactos que ameaçam toda a cadeia produtiva.
De janeiro a junho deste ano, Mato Grosso exportou 26,5 mil toneladas de carne bovina para os EUA, o que representa 7,2% das vendas totais. Agora, com a retração, o ritmo das plantas frigoríficas será revisto.
Em nota oficial, o presidente do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado (Sindifrigo-MT), Paulo Bellincanta, informou que não há expectativa de demissões em massa neste momento. Entretanto, a saída será conceder férias coletivas aos trabalhadores das plantas afetadas.
“No caso de Mato Grosso, poderão ocorrer férias coletivas, mas somente no período necessário para ajustes de mercado e equilíbrio entre oferta e procura, nada além disso”, disse.
Um dos maiores complexos industriais do setor no estado, da empresa Marfrig, localizado em Várzea Grande, já suspendeu sua produção por tempo indeterminado, sinalizando o impacto da decisão dos Estados Unidos na rotina da indústria.
Apesar do cenário negativo, o Instituto Mato-grossense da Carne (Imac) mantém uma visão otimista.
De acordo com o diretor de Projetos da entidade, Bruno de Jesus Andrade, o estado amplia sua presença em novos mercados e pode, mesmo com o revés americano, encerrar 2025 com recorde nas exportações.
Atualmente, Mato Grosso comercializa carne bovina com 77 países — entre eles Chile, Rússia, Egito, Filipinas, Arábia Saudita, México e Itália — três a mais que no ano passado.
“Vivemos um momento histórico, com o reconhecimento crescente da cadeia produtiva mato-grossense em qualidade e sustentabilidade. Essa combinação tem gerado confiança nos compradores internacionais e alimentado um otimismo real para batermos recordes ao longo de 2025”, declarou Andrade.