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BRASIL Sexta-feira, 11 de Julho de 2025, 17:30 - A | A

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"DESEJO LATENTE DE FRANCISCO EM SE TORNAR MULHER "

Maníaco do Parque pode voltar às ruas em 2028; testes psicológicos trazem novas descobertas

Condenado por uma série de assassinatos e estupros, Francisco de Assis Pereira está preso há 27 anos e pode deixar a prisão mesmo sem ter recebido acompanhamento psicológico ou jurídico adequado

Valéria Domingo

 

 

Francisco de Assis Pereira, 57 anos, conhecido como o Maníaco do Parque, pode ser libertado em 2028 após cumprir o limite de 30 anos de prisão previsto pela legislação penal da época. Condenado em 1998 por uma série de crimes brutais - incluindo 11 assassinatos confessos - ele permanece detido sem passar por avaliações psicológicas atualizadas desde a época de sua prisão.

 

Segundo a atual advogada de Francisco, Caroline Landim, ele foi diagnosticado na época do crime com transtorno de personalidade antissocial, condição sem cura, mas que demanda acompanhamento constante - o que nunca aconteceu.

 

“Ele não teve acompanhamento psicológico, médico, odontológico ou jurídico ao longo dessas quase três décadas. Não sabemos qual é a real situação dele hoje”, afirma a advogada.

 

Apesar da sentença ultrapassar 280 anos, o Código Penal brasileiro, na época da condenação, limitava o tempo de cumprimento da pena a 30 anos. Em 2019, o limite foi ampliado para 40 anos, mas a nova regra só se aplica a crimes cometidos após a vigência da mudança, em 2020. Por isso, Francisco poderá deixar a Penitenciária de Iaras (SP) em agosto de 2028.

 

Durante mais de dez anos, o preso ficou sem visitas ou defesa legal. A situação começou a mudar em 2023, quando a fonoaudióloga Simone Lopes Bravo iniciou um projeto literário investigando patologias mentais em reclusos. Para obter autorização de visita, contratou Landim como advogada.

 

“A contratação foi voltada à assistência jurídica, não à soltura. Mas acabei auxiliando em outras questões básicas, como pedidos de transferência de presídio e acesso a itens de higiene e alimentação”, explica a defensora.

 

A negligência no acompanhamento de Francisco se estende também à saúde. Ele teria arrancado os próprios dentes com linha de costura após anos de dores e falta de atendimento odontológico. “Ele tem uma condição congênita que causava dor intensa. Como não recebeu atendimento adequado, fez a extração por conta própria. Depois pediu implantes, mas queria dentes de porcelana, o que o sistema não cobre”, diz Landim.

 

O caso de Francisco evidencia falhas estruturais no sistema penal, especialmente no que diz respeito ao acompanhamento de detentos com transtornos mentais. A previsão de soltura sem avaliações recentes levanta dúvidas sobre a segurança pública e a responsabilidade do Estado em garantir um processo de reintegração minimamente seguro.

 

Perfil sombrio

 

Lançado em novembro de 2024, a obra Francisco de Assis, O Maníaco do Parque, do jornalista Ullisses Campbell, tornou-se o segundo livro de não-ficção mais vendido no Brasil, superando o sucesso anterior do autor sobre o caso de Suzane von Richthofen. Em entrevista à CNN, Campbell traça o perfil psicológico de Francisco de Assis Pereira, descrevendo-o como alguém que facilmente passava despercebido como serial killer. “Ele era invisível, como todo psicopata. Muito elogioso, educado, empático... Nem parece o Maníaco do Parque. Era uma pessoa agradável com as mulheres”, relata.

 

O diferencial da obra, segundo o autor, é o foco na construção da personalidade assassina e não apenas nos crimes em si. A narrativa resgata episódios marcantes da infância e juventude de Francisco, como a negligência familiar, o bullying sofrido na escola, episódios de violência no ambiente de trabalho e a convivência com o avô, que praticava rituais com sangue de animais.

 

“Quando a mãe do Francisco estava grávida, o avô afirmou que ela carregava o bebê do diabo”, conta Campbell.

 

Especialista em crimes reais, o jornalista baseou seu livro em entrevistas com sobreviventes, familiares das vítimas e uma análise de mais de 20 mil páginas de processos judiciais e laudos periciais. Entre os documentos, há previsão de liberdade para Francisco em agosto de 2028. No entanto, Campbell ressalta que a soltura não é automática: “Ele terá que passar por baterias de exames psicológicos e psiquiátricos que indicarão se ainda representa risco de reincidência.”

 

O autor também teve acesso a um teste psicológico que apontava possíveis conflitos de identidade de gênero em Francisco. Em entrevista citada no livro, o delegado Sérgio Luís da Silva Alves revela que o réu confessou que, caso não tivesse sido preso, continuaria matando, afirmando sentir dentro de si uma “força maligna crescente”.

 

A relação com a família foi marcada por rejeição e instabilidade. Francisco, filho do meio, passou a infância entre São José do Rio Preto, sob os cuidados do avô, e a casa da mãe, em São Paulo. “Ele foi e voltou 28 vezes, era rejeitado pela família. Fazia xixi na cama até os 15 anos, o que incomodava os irmãos. Seguiu assim até os 18, quando ingressou no Exército”, relata Campbell.

 

Durante o período em que foi preso, Francisco de Assis Pereira foi submetido ao Teste de Rorschach, exame psicológico utilizado para investigar traços profundos de personalidade, especialmente em criminosos com histórico violento. O objetivo era identificar características como agressividade, impulsividade, traumas, desejos reprimidos e distorções emocionais. Ao analisar os laudos do exame, o jornalista Ullisses Campbell descobriu um dado revelador: os resultados apontavam um desejo latente de Francisco em se tornar mulher. Esse anseio era refletido em sua forte identificação com figuras femininas de baixa estatura, cabelos cacheados e traços delicados — o mesmo perfil predominante entre suas vítimas.

 

Outro episódio curioso e perturbador relatado por Ullisses Campbell em seu livro envolve uma mulher que se dizia admiradora de Francisco de Assis Pereira. Segundo o autor, ela frequentava o Parque do Estado intencionalmente, com o desejo de encontrar o Maníaco do Parque. Ao ser questionada sobre o motivo, afirmou que o achava "muito bonito" e sentia-se atraída por ele.

 

O encontro entre os dois de fato aconteceu. Eles chegaram a se tocar e trocar carícias, mas, de forma inesperada, Francisco não demonstrou qualquer agressividade ou tentativa de ataque. No entanto, o comportamento dele surpreendeu a mulher: no momento em que ambos ficaram nus, Francisco vestiu as roupas dela.

 

Relembre os crimes do Maníaco do Parque

 

Entre 1997 e 1998, uma onda de medo se espalhou pela cidade de São Paulo, especialmente na zona sul da capital, após uma série de desaparecimentos de mulheres. Aos poucos, os casos começaram a se conectar quando os corpos das vítimas passaram a ser encontrados em áreas de mata no entorno do Parque do Estado, uma das principais áreas verdes da região.

 

O responsável pelos crimes foi identificado como Francisco de Assis Pereira, que ficou conhecido nacionalmente como o Maníaco do Parque. Ele atraía jovens mulheres com falsas promessas de oportunidades profissionais ou convites para sessões de fotos. Ao chegar ao local combinado, geralmente em trilhas isoladas dentro do parque, ele estuprava e assassinava as vítimas, abandonando seus corpos em meio à vegetação.

 

Francisco foi condenado pelos assassinatos de sete mulheres e pelo abuso sexual de outras dez. As investigações revelaram um padrão de abordagem que se repetia, o que facilitou sua identificação e prisão. A brutalidade dos crimes e o perfil das vítimas - geralmente jovens e vulneráveis - chocaram o país e geraram comoção e revolta. O caso ficou marcado como um dos mais emblemáticos do Brasil envolvendo violência contra mulheres e crimes sexuais em série.

 

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