Numa época em que até pecados podem ser "relativizados", por que não ceder à tentação das redes sociais em nome da fé?
Ambrogio Mazzai era um influencer fitness, dando dicas de programas de exercícios e boa alimentação. Mas ele deixou o tema da boa forma para abração a "palavra de Deus". Mas o influenciador não saiu de dentro do novo padre.
Fotos de Ambrogio tocando violão ou pedalando nas montanhas animaram seguidores que provavelmente estão tão interessados na palavra quanto em sua beleza. "Que homem lindo é o nosso Padre!" escreveu um seguidor na conta do padre no Instagram. "Você é muito bonito e muito elegante!", disse outro.
Ambrogio é mais um dos padres "moderninhos" na linha de frente da Igreja Católica que usam as redes sociais para se comunicar como os fiéis e engrossar o rebanho. Puritanos torcem o nariz para esse apelo descolado, mas parece ser um caminho sem volta. Os "novos tempos" da fé vieram para ficar.
Ambrogio compartilha fotos e vídeos com seus 460 milseguidores no TikTok e no Instagram quase todos os dias. Matteo Salvini, o vice-primeiro-ministro da Itália, está entre os seus fãs, contou o "Telegraph". "Tudo começou por acaso em 2021, por sugestão de um jovem da minha paróquia. Não achei que fosse uma boa ideia. Nunca imaginei que pudesse ter um impacto tão grande", contou o padre.
Nesta semana, mil missionários digitais e influenciadores de todo o mundo vão se reunir em Roma (Itália) para discutir o papel das mídias sociais na Igreja, como parte do ano jubilar do Vaticano, a fim de promover a sobrevivência de uma Igreja que sofre com o declínio populacional.
O Papa Francisco viu as mídias sociais como uma ferramenta de comunicação essencial e as tornou uma prioridade para a Igreja no século XXI. Só em 2020, o conteúdo do falecido papa nas mídias sociais foi visualizado mais de 27 bilhões de vezes. Seu sucessor, o Papa Leão XIV, um ávido usuário de mídias sociais, tem 14 milhões de seguidores no Instagram e mais de 52 milhões de seguidores em nove idiomas na conta @Pontifex.
O exemplo veio de cima e tem sido posto em prática. O padre Giuseppe Fusari é um padre de 58 anos, da cidade de Brescia (Itália), com músculos salientes e 60 mil seguidores no Instagram.
Apelidado de "padre fisiculturista", Giuseppe recebe tanto elogios pelos seus sermões quanto emojis de corações apaixonados. Segundo ele, a maioria dos seus seguidores tem entre 25 e 55 anos, e muitos estavam desiludidos com a religião.
"Espero que isso aproxime as pessoas da Igreja. Há muita curiosidade e estou convencido de que as mídias sociais são uma forma de atrair pessoas", disse ele.
Um seguidor chegou a perguntar: "Sem julgamento, você não é contra tatuagens? Eu tenho uma, e me arrependo muito de tê-la feito há 30 anos, porque o Senhor disse: 'Não tatuarás a pele'... O que você acha? Que Deus te abençoe."
Giuseppe respondeu: "Não há dogma, me desculpe. E não é diferente: a Igreja nunca se manifestou contra tatuagens, nem com documentos nem com dogmas. Mas você é livre para pensar como quiser."
O frescor dessa "liberdade" tem empolgado muitos velhos e novos fiéis. Embora alguns padres tenham enfrentado resistência dos seus superiores por publicarem fotos deles na praia ou na academia e tenham recebido sua cota de críticas, a resposta de outros membros da igreja tem sido amplamente positiva.
O padre Cosimo Schena, da paróquia de San Francesco, em Brindisi (Itália), disse ao jornal italiano "Corriere della Sera" que o número de pessoas em sua igreja dobrou desde que ele começou a usar o Facebook e o TikTok, nos quais costuma postar sobre a sua rotina fora da igreja.
Cosimo também chama atenção pela boa forma física, a barba cuidadosamente aparada e o cabelo cortado a um estilo moderno. Vaidade não é pecado.
