O Partido dos Trabalhadores (PT) lança nesta semana o curso "Fé e Democracia para Evangélicos e Evangélicas", uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo (FPA), ligada ao partido, voltada para melhorar a interlocução com o público evangélico. A ação tem como objetivo construir pontes com um segmento da população que tem crescido de forma expressiva nas últimas décadas e que, tradicionalmente, apresenta resistência às pautas da esquerda.

O curso será gratuito, online e com duração de um mês, promovendo encontros semanais. Segundo a FPA, a proposta é oferecer subsídios para que o partido consiga dialogar com os evangélicos de maneira mais eficaz, combatendo a desinformação, incentivando o engajamento nas lutas sociais e destacando os impactos positivos das políticas públicas nas famílias e comunidades de fé.

“A ideia é subsidiar o partido para melhorar a interlocução com a comunidade evangélica, que é parte integrante da classe trabalhadora. A religião faz parte da realidade cultural do povo brasileiro e, por isso, é fundamental dialogar com este público”, afirmou a Fundação.

A mobilização ocorre em um momento de desgaste na relação entre o governo Lula e o eleitorado evangélico. Uma pesquisa Datafolha divulgada em fevereiro deste ano apontou que 48% dos evangélicos avaliam negativamente o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — um aumento expressivo em relação aos 26% registrados em dezembro de 2024.

Para o cientista político Vinícius do Vale, diretor do Observatório Evangélico, a iniciativa representa um passo importante na tentativa de superar barreiras históricas. “O curso identifica o problema e propõe uma solução que, embora não definitiva, demonstra a necessidade de um diálogo contínuo e estruturado com o segmento evangélico”, avaliou.

Historicamente, os evangélicos têm votado majoritariamente em candidatos conservadores, o que representa um desafio para o PT em termos eleitorais e de comunicação.

A preocupação com a comunicação com o público evangélico não é recente. Desde o final de 2023, o presidente Lula tem manifestado incômodo com a dificuldade do partido em dialogar com esse segmento. Em discurso durante um evento do PT em Brasília, o presidente questionou se a sigla estava de fato “falando o que o povo quer ouvir”.

“Como é que a gente vai chegar nos evangélicos? Se fosse fácil, colocava a Benedita, que é a mais linda evangélica deste país, para resolver os nossos problemas. Mas não é uma questão individual. É uma narrativa que temos que aprender para conversar com essa gente”, afirmou, fazendo referência à deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), evangélica do partido.

Lula também destacou os valores familiares e comunitários que marcam a fé evangélica, reconhecendo a importância das igrejas na transformação de vidas. “São pessoas trabalhadoras, que muitas vezes agradecem à igreja por ter tirado o marido da cachaça para cuidar da família”, disse.

Com o lançamento do curso “Fé e Democracia”, o PT sinaliza uma tentativa de reaproximação com uma base que, embora resistente, é parte importante do eleitorado brasileiro. A estratégia indica um esforço de longo prazo para disputar corações e mentes de uma parcela da população que se tornou decisiva em eleições recentes.

A expectativa da FPA é que o curso ajude a criar um espaço de escuta e diálogo, onde fé e política não sejam vistas como campos opostos, mas como dimensões que podem se complementar na construção de um país mais justo e democrático.