Após ameaçar o governo Lula por judicializar a derrubada do aumento do IOF, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), adotou tom mais conciliador. A mudança repentina de postura ocorre em meio a pressões discretas vindas do Supremo Tribunal Federal (STF) e à má repercussão da atuação parlamentar nas redes e na imprensa.
O embate teve início quando o governo federal sinalizou a possibilidade de acionar o STF para reverter a decisão da Câmara de anular o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), medida considerada inconstitucional por juristas. Em resposta, Motta classificou o gesto como uma “afronta” ao Congresso Nacional e alertou que a judicialização seria vista como sinal de ruptura:
“O governo abriu mão de governar com os parlamentares e agora busca governar com o STF”, declarou.
Fontes do Planalto revelaram que o presidente Lula chegou a tentar contato direto com o parlamentar para evitar a votação, mas não foi atendido. A recusa, interpretada como um gesto de força, elevou a tensão entre Executivo e Legislativo.
Contudo, após três dias de clima tenso, Motta mudou o tom e passou a falar em “espírito colaborativo” e “vontade de trabalhar pelo país”. A suavização de discurso veio após ministros do STF lembrarem ao presidente da Câmara que há, atualmente, ao menos 80 parlamentares ou ex-parlamentares investigados por desvio de recursos oriundos de emendas parlamentares — área sensível que pode alcançar aliados e até o próprio Motta.
Entre os ministros que acompanham essas investigações estão Flávio Dino, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Nunes Marques, Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli. Hugo Motta já foi citado em diversas reportagens por envolvimento em obras suspeitas financiadas com verbas de emendas, incluindo:
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Recursos do "orçamento secreto" usados em obra com uso de trabalho escravo;
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Obras bancadas por Motta que estão sob investigação desde 2015;
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Repasses direcionados a municípios administrados por aliados, como seu próprio pai e o chamado “rei do lixo”.
Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da ESPM e da FESPSP, o episódio revela uma tentativa frustrada da ala bolsonarista de capitalizar a derrota do governo Lula. Segundo ele, a medida teve péssima repercussão pública, especialmente após o Congresso restringir o IOF e, na mesma semana, aumentar o número de deputados federais — decisão que eleva os gastos públicos sem oferecer contrapartidas.
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