Diante do impacto avassalador do vídeo publicado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que denunciou supostas fraudes no INSS e ultrapassou a marca de 100 milhões de visualizações em apenas dois dias, o governo Lula decidiu não responder diretamente às acusações. A estratégia, definida pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), chefiada por Sidônio Palmeira, foi evitar que qualquer manifestação oficial reacenda o discurso de perseguição política e comparações com o “gabinete do ódio” que marcou a gestão Jair Bolsonaro.

Em vez de partir para o confronto, o Palácio do Planalto adotou uma comunicação defensiva e indireta. A orientação foi concentrar o discurso em explicar que os esquemas de fraude são herança de governos anteriores e que a atual administração está atuando para recuperar valores desviados e punir os responsáveis. O foco da interlocução tem sido os aposentados, público diretamente afetado pelas irregularidades — e não Nikolas.

Nos bastidores, o Partido dos Trabalhadores (PT) organizou uma reação coordenada. Produziu e distribuiu entre parlamentares da base aliada uma cartilha de 30 páginas intitulada “Desmentindo Nikolas Ferreira – INSS”, contendo argumentos e dados para refutar as informações veiculadas pelo deputado nas redes sociais. A ordem interna foi clara: o governo não sobe no ringue, a base responde.

Mesmo com a mobilização, os vídeos e postagens dos aliados governistas ficaram aquém do alcance obtido por Nikolas. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) tentou rebater os argumentos, mas com repercussão modesta. O deputado André Janones (Avante-MG), conhecido pela forte atuação digital, conseguiu o melhor desempenho pró-governo, com 3,7 milhões de visualizações — ainda assim, muito distante do engajamento conquistado pelo parlamentar mineiro.

A decisão de evitar uma resposta oficial reflete o temor de que uma reação direta fortaleça a narrativa de perseguição e uso político da máquina pública contra adversários. Por outro lado, a ausência de uma manifestação institucional permitiu que Nikolas controlasse o debate público por dias, transformando as denúncias — que envolvem fraudes praticadas por entidades privadas contra aposentados — em um ataque direto à imagem do governo.

O episódio expôs mais uma vez o desafio do Planalto em lidar com a comunicação nas redes sociais, especialmente diante de opositores com forte apelo digital e capacidade de viralização.

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