Mato Grosso está no centro das discussões sobre os novos projetos ferroviários que podem transformar a logística entre a América do Sul e a Ásia.
O Brasil e a China voltaram a discutir a retomada da chamada Ferrovia Bioceânica — uma linha férrea que ligaria o porto de Chancay, no Peru, ao porto de Ilhéus, na Bahia, atravessando estados como Acre, Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Tocantins.
A proposta tem como objetivo criar um corredor ferroviário entre os oceanos Pacífico e Atlântico, facilitando o escoamento de cargas brasileiras rumo ao mercado asiático.
A ideia da ferrovia remonta à década de 1950, mas só ganhou força em 2014, quando os governos do Brasil, Peru e China firmaram uma parceria para financiar estudos sobre a construção.
Atualmente, a ligação ferroviária com o território brasileiro é considerada estratégica para o megaporto de Chancay, o maior investimento da China na América do Sul. A estatal chinesa Cosco Shipping já investiu US$ 1,3 bilhão no projeto. Para alcançar escala e competitividade, a estrutura portuária peruana depende diretamente da integração com a malha ferroviária brasileira.
Os estudos atuais indicam pelo menos três conexões com a Ferrovia Norte-Sul, além da integração com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), ainda em construção. Esse novo corredor logístico pode reduzir em até 10 dias o tempo de transporte de produtos brasileiros para a China, em relação ao trajeto tradicional pelo Oceano Atlântico.
A Fiol terá 1.527 km de extensão, ligando Figueirópolis (TO) ao porto de Ilhéus (BA). No mês passado, engenheiros do governo chinês visitaram trechos da Fiol e o Porto Sul, na Bahia, para acompanhar o andamento das obras e analisar a viabilidade da conexão ferroviária até o megaporto peruano.
Segundo o secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, a ideia é estruturar um corredor ferroviário de cargas que conecte Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre. Com isso, a produção do Centro-Oeste — com destaque para Mato Grosso — seria transportada por trilhos até o litoral do Pacífico, para posterior embarque em direção à Ásia.
O projeto mais avançado nesse sentido é o eixo Fico-Fiol, que prevê a concessão à iniciativa privada da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e da própria Fiol. Com 2.700 km de extensão entre Bahia, Goiás e Mato Grosso, o projeto é considerado prioritário pelo governo federal e está incluído no Novo PAC.
O investimento estimado é de R$ 28,7 bilhões. Quando finalizado, o corredor se conectará à Ferrovia Norte-Sul, consolidando uma nova rota de exportação para o agronegócio e a mineração.
Além da Ferrovia Bioceânica, outras duas propostas com participação de gigantes estatais chinesas — CRCC (China Railway Construction Corporation) e CREC (China Railway Engineering Corporation) — também estão em análise.
Uma delas prevê uma ligação ferroviária entre o Porto do Açu (RJ) e Porto Velho (RO), passando por Corinto (MG), Uruaçu (GO) e Lucas do Rio Verde (MT), um dos principais polos do agronegócio do país.
A outra rota conectaria o Porto de Santos (SP) a Antofagasta, no Chile, cruzando o Paraguai e a Argentina ao longo de 2.396 km.
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