A Polícia Federal investiga possíveis tentativas de interferência em decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) envolvendo o empresário Haroldo Augusto Filho, investigado por compra de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).
A apuração, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira (17), aponta conexões entre Haroldo e ministros da Corte Superior, com foco em eventos realizados em Cuiabá e no patrocínio da empresa Fource, da qual ele é sócio.
Em abril de 2024, o ministro João Otávio de Noronha participou de um evento da OAB-MT com patrocínio da Fource. Ele viajou de Brasília a Cuiabá em uma aeronave que, segundo documentos obtidos pela PF, foi disponibilizada pelo próprio empresário.
Noronha confirmou a viagem, mas disse que tudo foi organizado pela OAB e declarou-se suspeito em processos relacionados. “Simplesmente entrei no avião, fui para Mato Grosso, fiz a palestra e voltei no outro dia, nada mais”, disse ao Estadão.
A presidente da OAB-MT, Gisela Cardoso, declarou que desconhece qual aeronave foi usada. Uma foto do interior do avião, localizada no WhatsApp de Haroldo, reforça a linha de investigação.
Outro evento da OAB-MT em 2022 também teve patrocínio da Fource e contou com a presença do ministro Marco Buzzi.
A PF identificou mensagens entre Haroldo e a advogada Catarina Buzzi, filha do ministro, com referências a encontros e à tentativa de organizar um jantar com Buzzi, o que não se concretizou.
O ministro nega qualquer vínculo com o empresário e afirma que viajou em voo comercial pago pela OAB.
As suspeitas ganharam força após o cruzamento de dados obtidos durante a Operação Sisamnes.
A investigação revelou que, apesar de a Fource não figurar oficialmente nos processos, atua nos bastidores por meio de advogados contratados, especialmente em disputas fundiárias.
Um desses processos, sob relatoria de Buzzi e a ser julgado pela Quarta Turma do STJ, envolve a posse de um terreno em Mato Grosso cuja documentação teria sido falsificada após a morte do proprietário.
O material foi encontrado durante as diligências da PF após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023, em Cuiabá.
Nos diálogos extraídos do celular de Zampieri, há mensagens trocadas com Catarina Buzzi e com Haroldo, indicando proximidade entre os envolvidos. Um dos trechos mostra Haroldo afirmando ser “amigo da mãe, da filha” do ministro e sugerindo ter acesso direto a ele.
A advogada negou qualquer tipo de pedido de Haroldo para influenciar o pai e afirmou que não atua em nenhum processo sob relatoria dele.
Em agosto de 2024, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afastou os desembargadores João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes Filho do TJMT por suspeita de venda de sentenças.
A investigação alcançou gabinetes do STJ a partir do mapeamento das relações do empresário com autoridades do Judiciário.
Apesar das conexões identificadas, os ministros citados não são alvos formais da investigação.
A PF avalia se há indícios de irregularidades ou se as ações de Haroldo foram tentativas isoladas de aproximação com figuras de influência no Judiciário. Até o momento, o empresário não se manifestou.