O Banco Central do Brasil (BC) parece estar “jogando para frente” a discussão sobre os juros, buscando ganhar tempo diante das incertezas econômicas atuais. Essa é a análise de Jeferson Bittencourt, head de macroeconomia do ASA, ao comentar no WW desta quarta-feira (31) a recente decisão do BC de manter as taxas de juros inalteradas.
Bittencourt destacou que o BC está enfrentando dificuldades para sinalizar o aperto monetário necessário para a economia brasileira. “Aparentemente, a sensação que dá é que o nosso Banco Central está mostrando que ele tem uma dificuldade adicional em sinalizar o aperto monetário que é necessário fazer”, afirmou o economista.
O economista chamou a atenção para as nuances na linguagem utilizada pelo BC em suas comunicações. Ele notou uma mudança sutil, mas significativa, no comunicado mais recente: “Em junho, eles diziam no balanço de riscos que exigia um acompanhamento com maior cautela. Dessa vez, eles escreveram ainda maior cautela”.
O uso de termos como “vigilância diligente” é questionado Bittencourt pela real intenção por trás dessa escolha de palavras. “Você vai vigiar ou vai ser diligente? Porque, diligente, presumo que vai ter uma proatividade”, pontuou.
Contexto internacional
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, manteve suas taxas de juros inalteradas.
Segundo o economista, o mercado esperava uma postura mais “dovish” (propensa a afrouxamento monetário) do Fed, mas a realidade foi ligeiramente diferente.
Bittencourt concluiu que, embora um corte de juros em setembro pareça praticamente certo nos EUA, não se deve esperar uma “farra de corte” ou uma aceleração significativa no processo de afrouxamento monetário.
A postura do BC brasileiro, portanto, parece estar alinhada com uma tendência global de cautela, enquanto as autoridades monetárias buscam navegar em um cenário econômico ainda incerto e complexo.
