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ARTIGOS Segunda-feira, 28 de Outubro de 2024, 11:00 - A | A

Segunda-feira, 28 de Outubro de 2024, 11h:00 - A | A

EDITORIAL

DESCRÉDITO: a crise de confiança nos institutos de pesquisa após as eleições de 2024

Desde o primeiro turno, vimos uma sucessão de erros crassos em previsões, com levantamentos que não apenas falharam em capturar o pulso do eleitorado, mas também se distanciaram drasticamente dos resultados finais

 

 

Os institutos de pesquisa, que tradicionalmente desempenham um papel crucial na análise das intenções de voto, se viram descredibilizados nas eleições municipais de 2024 em Cuiabá e Várzea Grande. Desde o primeiro turno, vimos uma sucessão de erros crassos em previsões, com levantamentos que não apenas falharam em capturar o pulso do eleitorado, mas também se distanciaram drasticamente dos resultados finais, colocando em xeque a confiabilidade dessas instituições. Em Várzea Grande, a advogada Flávia Moretti (PL) saiu vitoriosa com 50,31% dos votos válidos, desbancando o atual prefeito, Kalil Baracat, que era dado como praticamente eleito pelos levantamentos da Gazeta Dados, que afirmavam uma vitória de 64,94% para ele, bem acima da margem de erro. Já em Cuiabá, o deputado estadual Eduardo Botelho (UB) foi apontado como líder na disputa, mas o resultado nas urnas foi completamente diferente, com Abílio Brunini (PL) liderando e Lúdio Cabral subindo para o segundo lugar.

 

Este cenário não apenas expõe os erros gritantes dos institutos, mas reflete um distanciamento desses institutos em relação à população que dizem representar. Suas previsões, antes consideradas balizas seguras, hoje se tornaram quase anedóticas, distantes da realidade vivida nas urnas e, em última análise, falharam em antecipar o desejo legítimo de mudança dos eleitores. As eleições de 2024 consolidaram o fim do ciclo do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado de Mato Grosso, um reduto bolsonarista, onde a rejeição ao partido está em franca ascensão. Esta rejeição se mostrou tão potente que nenhum candidato do PT conseguiu se eleger para a Câmara de Vereadores em Cuiabá, e o partido foi completamente expurgado do cenário municipal em todo o estado.

 

A derrota de Lúdio Cabral no segundo turno para Abílio Brunini reforça esse cenário, onde nem mesmo a “margem de erro” conseguiu ser utilizada para justificar tamanha discrepância entre as projeções e os resultados finais. Na reta final, os institutos chegaram a apontar um empate técnico entre os candidatos, mas os votos contaram outra história: Abílio Brunini conquistou 53,80% dos votos válidos, somando 171.119 votos, enquanto Lúdio, com 46,20%, ficou com 146.966 votos.

 

Os erros das pesquisas começam no primeiro turno, quando os institutos indicavam que Abílio Brunini perderia força caso fosse para o segundo turno. A narrativa promovida era de que ele talvez até entrasse na disputa, mas que sucumbiria diante de um concorrente. Os números, no entanto, mostram que ele terminou o primeiro turno com 39,60% dos votos válidos, desbancando os prognósticos. Lúdio Cabral, por sua vez, surpreendeu ao garantir a segunda posição com 28,32%, contrariando mais uma vez as previsões.

 

A questão que emerge é: qual é a real função dos institutos de pesquisa se suas metodologias, ao invés de capturar o desejo da população, entregam dados inconsistentes? A distância entre o projetado e o resultado final não pode ser explicada por meros erros de amostragem, mas reflete um problema estrutural, onde a metodologia e a leitura de cenário parecem inadequadas para capturar a verdade das urnas, especialmente em estados como Mato Grosso, onde o conservadorismo é crescente e evidente.

 

No segundo turno, a situação não foi diferente. A AtlasIntel, em levantamento divulgado na véspera da eleição, sugeria uma vitória de Lúdio com 49,1% dos votos, frente a 48,8% de Abílio, projetando um embate acirrado que mais uma vez não se concretizou. A Futura Inteligência também indicava um cenário de disputa ponto a ponto, com 50,1% para Abílio e 49,9% para Lúdio. E ainda o instituto Paraná Pesquisas, em sua avaliação de quinta-feira, trazia Abílio com 48,3% e Lúdio com 43,1%, revelando uma enorme margem de incerteza para uma pesquisa a poucos dias do pleito.

 

A eleição de Abílio Brunini (PL) com uma margem expressiva e a vitória de Flávia Moretti (PL) em Várzea Grande evidenciam o descompasso entre as intenções do eleitor e as previsões dos institutos. Esse fenômeno revela mais do que um erro estatístico; ele ilustra um desalinhamento com o desejo popular e uma falha em compreender a evolução do conservadorismo no estado. Ao insistir em uma narrativa que não encontra respaldo nas urnas, os institutos minam sua própria credibilidade, deixando uma dúvida crescente sobre o real impacto de suas previsões em disputas futuras.

 

Além disso, essa sucessão de falhas reiteradas reabre o debate sobre o papel e a responsabilidade dos institutos de pesquisa no processo eleitoral. Quando suas previsões influenciam estratégias de campanha, movimentos do mercado financeiro e até a opinião pública, suas falhas ganham uma magnitude ainda maior. A ciência política se vê desafiada a buscar novas metodologias e a rever seus processos para não correr o risco de alienar-se dos eleitores e perder totalmente a relevância como ferramenta de análise.

 

O desfecho dessas eleições mostra que a voz do eleitor em Mato Grosso, especialmente na polarizada Cuiabá e na estratégica Várzea Grande, é inegável, e os institutos de pesquisa, ao menos neste momento, parecem ter perdido a sintonia com o povo. Enquanto os cidadãos optaram por um caminho claro de renovação e mudança, as pesquisas insistiam em números que desconsideravam a força do conservadorismo e a rejeição aos partidos de esquerda na região.

 

Em um estado que abraça valores conservadores e uma postura firme contra o PT, os eleitores responderam às urnas de forma decisiva. A vitória do Partido Liberal e a “limpeza” do PT dos cenários municipais reforçam essa direção, em uma conjuntura onde o eleitorado deixou claro seu descontentamento com o status quo e a necessidade de lideranças alinhadas aos seus valores. É hora de os institutos de pesquisa se perguntarem: a quem eles realmente servem, se não ao próprio eleitor?

 
 
 
 

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