Por Pedro Rosário
Com o avanço das tecnologias e aumento massivo do acesso à informação, caiu no conhecimento da população a importância da prática de exercícios físicos para manutenção da saúde e preservação da vitalidade, resultando em aumento nos praticantes de esportes.
Em contrapartida, nesse mesmo período, cresceu a veiculação de notícias sobre casos de morte súbita em eventos esportivos — o que gera apreensão entre esportistas amadores e profissionais, embora a frequência real desses casos não tenha aumentado.
Diante desse cenário, se faz importante dizer que o esporte em si não pode ser posto como o causador dessas mortes, pois o corpo humano, em condições normais, tolera exercícios extenuantes, inclusive positivas resultantes deles. O mesmo não pode ser dito quando há doença cardiovascular não identificada.
Porém, se você, leitor, possui alguma cardiopatia já conhecida, saiba que isso não contraindica a prática de exercícios – muito pelo contrário. Exercitar-se é ainda mais importante para você. Porém, com ajustes de frequência, intensidade, tempo e tipo de exercício, a depender das particularidades da sua doença e dos limites definidos por uma avaliação profissional.
A morte do jovem João Gabriel, durante seu aniversário de 20 anos no fim da meia maratona de Porto Alegre gerou comoção nacional, resultando em um projeto de lei na cidade, que visa tornar obrigatória a apresentação de atestado médico para participação em corridas de rua.
Esse projeto nos traz a seguinte reflexão: Como proteger a população da morte súbita sem criar barreiras para a prática esportiva? Essa é uma questão sem resposta unânime, nem mesmo entre especialistas.
Federações esportivas diferentes exigem avaliações diferentes para a liberação para a prática profissional, pois cada esporte está exposto a estímulos e intensidades distintos. Essa diferença se torna mais compreensível quando comparamos um maratonista com um jogador de boliche, ou um lutador, por exemplo.
Da mesma forma, há distinção de recomendação entre regiões diferentes. Para a American Heart Association (Associação Americana do Coração), é exigido apenas consulta médica para a liberação para esporte competitivo, enquanto a ESC (Sociedade Europeia de Cardiologia) exige também a realização de eletrocardiograma para o mesmo fim. Isso se dá pela diferença de incidência de doenças cardíacas genéticas em cada região do globo. No norte da Itália, por exemplo, a maior causa de morte súbita em jovens é a Miocardiopatia Arritmogênica, enquanto no resto do mundo, a maior causa é a Miocardiopatia Hipertrófica. Em pacientes acima de 35 anos, a causa mais comum é a Doença Arterial Coronariana no mundo todo. Essas causas e outras menos comuns podem ser identificadas com exames de baixo custo.
Embora a intenção do projeto de lei seja nobre, a obrigatoriedade irrestrita pode acabar afastando justamente quem mais se beneficiaria do exercício — sobretudo em populações com menor acesso à saúde. Pacientes sem história familiar de morte súbita, ou relatos de dor torácica, falta de ar, palpitações, tontura, desmaios e convulsões não devem adiar o início da prática esportiva para procurar avaliação médica. Caso apresente qualquer um desses fatores de risco, é indicado suspensão das atividades até que isso seja devidamente esclarecido.
Dr. Pedro Rosário | Médico do Esporte
CRM MT 12.705 | RQE 8332
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