A tensão entre o Congresso Nacional e a equipe econômica do governo federal atingiu seu ápice na noite de quarta-feira (28), durante reunião na residência oficial do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Motta concedeu um prazo de 10 dias ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que o governo recue das medidas que elevaram o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Caso contrário, o Congresso promete colocar em votação um projeto de decreto legislativo para anular o aumento — uma medida inédita e direta contra a política econômica do Executivo.
“Para não dizer que não queremos colaborar com o governo, vamos dar um prazo para que a equipe econômica estude alternativas”, afirmou Hugo Motta ao site Poder360. “Serão uns 10 dias de espera.” O tom do parlamentar demonstra cansaço com o diálogo e aposta agora na pressão institucional.
Estavam presentes à reunião os principais articuladores políticos do Planalto: a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), os líderes do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e na Câmara, José Guimarães (PT-CE), além do secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan. O encontro, que tinha o objetivo de buscar consenso, terminou como um ultimato claro ao Ministério da Fazenda.
A decisão de aumentar o IOF tem sido alvo de críticas tanto no Congresso quanto no mercado financeiro, onde a medida é vista como uma tentativa emergencial e improvisada para tapar o rombo nas contas públicas, a poucos meses da nova meta de déficit zero. No Legislativo, crescem as sugestões de alternativas para a arrecadação, como taxação sobre apostas esportivas, aumento da tributação sobre fintechs e propostas mais estruturantes, embora o ministro Haddad não enxergue soluções rápidas e viáveis para essas ideias.
Hugo Motta foi incisivo: “Temos de ter algo estruturante e não gambiarras a toda hora para aumentar a arrecadação. Temos de rever as isenções fiscais, discutir a vinculação de receita e votar a reforma administrativa. Isso é o que o país quer.” A crítica, apesar de dirigida à Fazenda, reflete uma cobrança mais ampla à estratégia econômica do governo, que oscila entre medidas pontuais e improvisos.
Enquanto o Executivo aposta em ajustes emergenciais, o Congresso se coloca como guardião da “responsabilidade fiscal” — postura que, contudo, tem tom seletivo, especialmente em ano eleitoral. Com o projeto de decreto legislativo já pronto para votação, cresce a expectativa de que o aumento do IOF seja derrubado, caso o Ministério da Fazenda não mude o curso.
A popularidade do governo Lula enfraquece em diversos estados, e a base aliada se mostra cada vez menos coesa. O embate em torno do IOF revela não só uma crise na articulação política do Executivo, mas também a sensação de que o governo cobra mais de quem menos pode e entrega menos para quem mais precisa.
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