O policial militar Jackson Pereira Barbosa, preso em abril deste ano por suposta intermediação no assassinato do advogado Renato Gomes Nery, acompanhava o andamento das investigações conduzidas pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá em tempo real.
Segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), Jackson mantinha contato frequente com os advogados do também PM preso Heron Teixeira Pena Vieira, acusado de ser um dos articuladores do crime.
Entre os dias 4 e 10 de abril de 2025, antes de sua prisão, Jackson trocou mensagens e fez videochamadas via WhatsApp com os defensores de Heron. De acordo com o MPE, esses contatos revelam uma tentativa de monitorar e, possivelmente, obstruir as investigações.
A Promotoria também aponta que, desde o fim de março, o militar já se articulava com a equipe jurídica do comparsa, que teria, inclusive, cobrado "reserva" para que ele permanecesse em silêncio sobre o caso.
“Advogados procuraram Jackson para tentar resolver a 'questão financeira' de Heron, a fim de garantir seu silêncio”, destaca trecho da denúncia, com base em relatórios técnicos anexados ao processo.
A acusação ainda cita que foram encontradas mensagens com conteúdo de visualização única e até uma “foto escura com interrogação”, o que indicaria uma forma velada de pressionar para que o “serviço” fosse executado, reafirmando o controle de Jackson sobre a engrenagem criminosa.
Segundo a DHPP, Jackson teria sido contratado como intermediador pelos supostos mandantes do crime, os empresários Julinere Goulart Bentos e César Jorge Sechi, de Primavera do Leste.
Em 23 de junho, ele foi formalmente indiciado por homicídio triplamente qualificado – por promessa de recompensa, emprego de meio que possa causar perigo comum e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Também foi indiciado o policial Ícaro Nathan Santos Ferreira, acusado de fornecer a arma usada no crime, uma pistola Glock G17.
As investigações apontam que a motivação do assassinato teria origem em um litígio judicial envolvendo Renato Nery e o casal de empresários. A disputa girava em torno da posse de terras em Novo São Joaquim, avaliadas em mais de R$ 30 milhões, que o advogado recebeu como pagamento de honorários após atuar por mais de três décadas em uma ação.
O caso já levou ao indiciamento de outros envolvidos. Quatro policiais militares da Rotam – Leandro Cardoso, Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira e Jorge Rodrigo Martins – foram acusados de forjar um falso confronto para plantar a arma utilizada no homicídio.
No dia 1º de maio, além de Heron Vieira, também foi indiciado o caseiro Alex Roberto de Queiroz Silva, apontado como o autor dos disparos. Ambos responderão por homicídio triplamente qualificado.
Já no dia 11 de julho, o MPE concluiu a última etapa da investigação com o indiciamento de César Sechi e Julinere Bentos, pelos mesmos agravantes do homicídio.
Renato Nery, que foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT), foi baleado na cabeça no dia 5 de julho de 2024, ao chegar em seu escritório na Avenida Fernando Corrêa da Costa, em Cuiabá.
Apesar de ter sido socorrido com vida e submetido a cirurgia no Hospital Jardim Cuiabá, não resistiu aos ferimentos e faleceu no dia seguinte.