A ideia de trazer dinossauros de volta à vida, popularizada por franquias cinematográficas como Jurassic Park, continua restrita ao campo da ficção científica. Embora a chamada “desextinção” esteja ganhando força com projetos ambiciosos de engenharia genética, especialistas garantem que ressuscitar os gigantes pré-históricos ainda é cientificamente inviável.
Nos últimos anos, startups como a norte-americana Colossal Biosciences chamaram atenção ao anunciar planos para recriar espécies extintas, como o dodô (desaparecido no século 17), o mamute-lanoso e o lobo-terrível — animais que viveram há cerca de 10 mil anos. A proposta envolve o uso de tecnologias de edição genética, como CRISPR, para inserir genes dessas espécies em organismos vivos semelhantes, criando híbridos funcionais.
Esses anúncios despertaram entusiasmo e também questionamentos: seria possível aplicar a mesma técnica para ressuscitar dinossauros como o tiranossauro rex ou o velociraptor? A resposta da ciência, no entanto, é clara: não.
Fóssil não é suficiente
De acordo com matéria publicada pelo Olhar Digital, o grande obstáculo para a desextinção de dinossauros é a ausência de material genético viável. Para recriar uma espécie extinta, é essencial ter acesso ao seu DNA completo — o que não é possível no caso dos dinossauros, que desapareceram há cerca de 66 milhões de anos.
Estudos científicos indicam que o DNA se degrada com o tempo. Em condições normais, metade do material genético se perde a cada 521 anos. Mesmo em ambientes congelados, como o permafrost, a durabilidade máxima do DNA seria de aproximadamente 158 mil anos — uma fração ínfima se comparada ao tempo desde a extinção dos dinossauros. Por isso, fósseis não contêm mais DNA utilizável.
Implicações éticas e ambientais
Mesmo que futuramente fosse possível superar a barreira genética, o retorno dos dinossauros levantaria questões complexas. Conforme ressalta reportagem da National Geographic, o comportamento dessas criaturas é desconhecido no mundo moderno. Sem qualquer histórico de convivência com seres humanos, dinossauros poderiam apresentar reações imprevisíveis ou sequer conseguir se adaptar às mudanças no clima, atmosfera e vegetação da Terra atual.
Além dos desafios fisiológicos, haveria ainda dilemas éticos: qual seria o propósito de reviver uma espécie extinta há dezenas de milhões de anos? Como garantir bem-estar a esses animais? Seriam tratados como peças de exibição ou integrados à natureza? A criação de ambientes controlados que simulem o Cretáceo seria uma empreitada cara e de utilidade duvidosa.
Ciência com responsabilidade
Para a paleontóloga Victoria Arbour, do Royal Ontario Museum, no Canadá, o fascínio pelos dinossauros deve servir como inspiração para preservar a biodiversidade atual. “A maravilha que sentimos ao olhar para fósseis de dinossauros pode nos incentivar a valorizar a finitude da extinção e a proteger as espécies que ainda compartilham o planeta conosco”, afirmou ela ao Olhar Digital.
Enquanto espécies como o mamute ou o dodô podem ter chances reais de “ressurreição”, os dinossauros seguirão, ao menos por ora, como estrelas dos museus e da ficção científica. A ciência avança a passos largos, mas alguns limites continuam intransponíveis — e, talvez, devam permanecer assim.