Entre filmes, séries, músicas e conversas informais, a ideia de que o sexo é uma experiência naturalmente prazerosa e desejável aparece quase como regra. Mas, para algumas pessoas, essa expectativa está longe de se confirmar. A aversão sexual é o nome dado a um desconforto ou repulsa diante de tudo que envolve o ato sexual — não só a prática, mas também pensar, ouvir, assistir ou conversar sobre o assunto.
De acordo com a psicóloga Flávia Bonani, a condição já foi classificada como um transtorno isolado nos antigos manuais de saúde mental. Na versão atualizada do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), porém, ela foi incorporada a outros transtornos relacionados ao desejo, excitação ou dor.
“Hoje, entende-se que a aversão sexual pode estar incluída em dois tipos de transtornos: um que envolve dor e tem um fundo fisiológico, e outro que está mais ligado a fatores emocionais e ao desejo sexual”, explica Flávia. A profissional ressalta que nem todo caso exige intervenção. Se a pessoa não sente sofrimento relacionado à aversão, não há necessidade de tratamento.
Quando presente, a condição pode gerar reações físicas e emocionais como ansiedade, medo e até repulsa diante da possibilidade de contato sexual. Além de impactar a vida íntima, os efeitos podem se estender para outras áreas, afetando relacionamentos afetivos, produtividade, autoestima e o humor.
O tratamento, quando necessário, costuma começar por uma investigação cuidadosa das causas. “A aversão está relacionada a dores físicas? Ou a questões emocionais? O desejo nunca existiu ou foi perdido ao longo do tempo? O relacionamento atual pode estar envolvido nisso?”, exemplifica Flávia. Essas questões são trabalhadas em psicoterapia, criando caminhos para aliviar o sofrimento e, se for o caso, ressignificar a relação da pessoa com a sexualidade.
Por outro lado, a especialista reforça que, para quem não se incomoda com a ausência de desejo e não sofre por isso, a aversão não representa um problema a ser resolvido. “Algumas pessoas não se preocupam ou sequer pensam em suas vidas sexuais. Nesse caso, isso não afeta o dia a dia. Mas, quando há sofrimento, o impacto pode se refletir em vários aspectos da vida”, conclui.