A ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou na noite desta segunda-feira (2) que irá disputar uma vaga como deputada estadual pela província de Buenos Aires nas eleições locais marcadas para 7 de setembro. A decisão foi comunicada em entrevista ao canal C5N, uma das poucas que concedeu nos últimos anos.
Kirchner afirmou que sua candidatura atende a um “senso comum”, diante da importância estratégica da província — que concentra quase 40% do eleitorado argentino e é historicamente um reduto do peronismo. “Alguém considera que se o peronismo não for bem em setembro, nas [eleições] provinciais, no que é o bastião do peronismo, podemos ir bem em outubro?”, questionou.
O pleito de outubro é considerado decisivo para definir a correlação de forças no Congresso e pode ampliar ou limitar o poder de Javier Milei, que governa sem maioria legislativa. No primeiro ano de mandato, o presidente teve dificuldade para aprovar projetos importantes, como a recente tentativa frustrada de emplacar a chamada lei da Ficha Limpa, que barraria políticos condenados em segunda instância — caso da própria Kirchner.
Ao confirmar a candidatura, a ex-presidente, que disputará pela terceira seção eleitoral da província, onde ficam municípios como La Matanza e Lomas de Zamora, também garantirá imunidade parlamentar enquanto aguarda decisão da Suprema Corte sobre sua condenação a seis anos de prisão por suposto envolvimento em corrupção em obras públicas. Kirchner nega as acusações e diz ser alvo de perseguição judicial.
Na entrevista, ela fez duras críticas ao governo Milei, acusando-o de dependência de empréstimos internacionais e de subordinação ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que recentemente aprovou um novo crédito de 20 bilhões de dólares ao país. A ex-presidente ainda defendeu uma reforma no Judiciário argentino, citando o exemplo das eleições realizadas no México para escolha de magistrados pelo voto popular.
Nas redes sociais, Milei ironizou a candidatura de Kirchner a um cargo estadual, insinuando que seu governo irá “sepultar o kirchnerismo” nas próximas eleições.