Assunto que já foi amplamente debatido na américa latina, principalmente em países onde as economias são representativas neste cenário, como também no mundo, onde observamos alguns países que efetuaram a transição de suas moedas para o dólar americanos, sucesso ou relativo sucesso, outros que o mantém como moeda oficial, em trânsito juntamente com as locais, e aqueles que oficiosamente o utiliza.
O ponto que o tema vem ganhando força nos debate em vista das promessas de campanha presidencial argentina, onde o candidato Javier Milei indica como a solução para o descontrole inflacionário que projeta os 200% ao fim deste ano. Como mencionei temos diversos exemplos quanto a substituição da moeda, o amigo leitor pode estar se perguntando; Pacheco, já passamos por diversas substituições de moedas por aqui, que resolveram em parte ou de fato solidificaram, como o Real, que tanto preocupa essa mudança para o dólar? Posso elencar alguns, porém, os que mais impactam nesse processo são os seguintes; o fato que se controlar a emissão de moeda, uma vez, de quem o faz, é o governo norte americano, assim, temos outros impactos, como a capacidade de elaboração de políticas monetárias para ajustes em momentos de crise, á exemplo da inflação. Assim deixando o país (que tenha optado pela dolarização) vulnerável a mudanças econômicas dos EUA.
Antes de falar de como decorreram as transições em países como Equador, El Salvador e Panamá, que já detém em curso, oficialmente, o dólar, vamos observar o que ocorre no país vizinho e os problemas que hoje estão presentes por lá e que geram discursões em torno dessa possibilidade. Como pudemos acompanhar nos últimos meses, a Argentina vem enfrentando um grave problema cambial no país, além obviamente, que todo contexto de crise, com uma inflação altíssima, em foco o câmbio, e claro, que o país não detém reservas de dólares suficientes para a transição de moeda, que com efeito, poderá gerar uma forte restrição do dinheiro circulante, o que naturalmente resultaria numa alta fortíssima dos juros, que forçaria a queda da inflação, contudo, causaria uma forte recessão. Onde esbarramos em um ponto que divide as opiniões? Principalmente nos assessores de campanha de Javier Milei, e todos que acompanham as eleições argentinas, inclusive as equipes técnicas do nosso Ministério da Fazenda, o quanto tal tratamento de choque econômico custaria no aspecto do custo social. Relembrando o corrido no idos dos anos 2000, onde a onde de protestos ocasionado por esse alto custo (social), e instabilidade econômica, levaram a algumas trocas presidenciais.
O embasamento do candidato, para tal política, se resguarda muito no exemplo de seu vizinho, Equador, onde uma grave crise econômica estava instalada, como desvalorização da moeda local, hiperinflação e instabilidade bancária, nos anos 2000, o então presidente Jamil Mahuad, iniciou o processo de dolarização, substituído o Sucre (moeda local da época) pelo dólar, estabelecendo taxa cambial fixa entre as moedas. De fato, imediatamente se colheram bons frutos, como a redução da inflação de 100% para 20%, já no ano seguinte, consolidação nas relações comerciais, além da estabilidade de preços.
Porém, exatamente pelo fato de não serem as emissões da moeda, eles ficaram vulneráveis a mudanças políticas econômicas norte americanas, o que podemos observar na atual crise econômica local, e o alto déficit fiscal por lá. No caso de El Salvador, encontramos duas moedas, o Cólon e o Dólar, como moedas oficiais, contudo, pela paridade cambial que existe no país, a moeda local praticamente inexiste. Neste exemplo, a dolarização basicamente ocorreu para cumprir as condições do Tratado de Livre Comercio com os Estados Unidos, onde se englobava também a eliminação de tarifas aduaneiras. Já no Panamá, não temos o dólar como moeda oficial, contudo, pela paridade cambial de 1 Balboa (moeda local) é o equivalente a 1 dólar, e a moeda americana é aceita nas transações comerciais e financeiras no país, o Balboa, praticamente existe de modo figurativo. O Panamá, detém relações estreitas com diversos países, principalmente os EUA, muito procurado por políticos e organizações para abertura de suas offshore’s, por se tratar de um paraíso fiscal.
*Thiago Pacheco é especialista em finanças, mercado, controladoria, agronegócios e ESG, com mais de 20 anos de indústria financeira, com passagens em grandes bancos com presença internacional, além dos maiores players do agro. Professor e mentor para o mercado financeiro e de capitais, e ainda, fundador e CEO da Elevare Institute.