Em uma manhã marcada pela sensibilidade, firmeza e compromisso com as causas femininas, a Câmara Municipal de Cuiabá abriu espaço para um momento de reflexão profunda sobre o papel da sociedade e do poder público no enfrentamento à violência contra a mulher.
A convite da vereadora Maysa Leão (Republicanos), que tem se notabilizado por sua postura combativa e acolhedora nas pautas de direitos humanos, a defensora pública e doutora Rosana Leite, uma das vozes mais respeitadas na luta contra o feminicídio em Mato Grosso, ocupou a tribuna da Casa na terça-feira (5), durante sessão alusiva ao Agosto Lilás – mês de conscientização pelo fim da violência de gênero.
O encontro entre essas duas mulheres de fibra e história foi, ao mesmo tempo, simbólico e urgente. Num país onde os dados de violência doméstica crescem de forma alarmante, o momento serviu de palco para lembranças dolorosas e necessárias, como o brutal caso de Juliana Soares, de 35 anos, agredida com 61 socos dentro de um elevador pelo ex-namorado — um crime que horrorizou o Brasil e escancarou, mais uma vez, o drama vivido por milhares de mulheres.
Com sua fala serena e impactante, Dra. Rosana fez um apelo enfático pela escuta ativa, lembrando que “o maior desafio da nossa sociedade hoje é credibilizar a palavra das vítimas”. E completou: “Por muitos anos fomos silenciadas. Ainda hoje, quando uma mulher denuncia, há quem questione seu comportamento — e isso precisa acabar”.
A defensora também relembrou outros casos emblemáticos, como os das cuiabanas Thays Machado e Emilly Bispo da Cruz, vítimas fatais da violência de gênero no ano passado, e reforçou a importância de políticas públicas para mulheres em situação de vulnerabilidade: “Muitas não têm advogado particular nem plano de saúde. Dependem exclusivamente do sistema público para sobreviver — e esse sistema precisa acolher.”
Elegante, firme e visivelmente emocionada, Maysa Leão fez um chamado à sociedade: “O que estamos fazendo para impedir o avanço da violência doméstica e dos feminicídios? Não podemos mais nos contentar com discursos em datas simbólicas. Essa pauta exige constância, ação e coragem política”.
Em tom crítico, a vereadora também lamentou a ausência de vozes masculinas no debate e cobrou maior engajamento dos gestores públicos: “Grande parte das políticas voltadas à proteção das mulheres são idealizadas por mulheres. É hora dos homens também assumirem essa responsabilidade”.
A frase final de Maysa ecoou pela galeria e pelos bastidores da Casa como um convite à ação:
“Eu espero que esse agosto seja agosto, setembro, outubro, novembro… doze meses do ano. Cada omissão nossa reforça a impunidade do agressor.”