Nos últimos três anos, o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi) viu sua receita disparar, atingindo um aumento de R$ 100 milhões, conforme auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Esse crescimento expressivo ocorre paralelamente a uma investigação da Polícia Federal, que apura a possível participação da entidade em um esquema de descontos irregulares aplicados a aposentados do INSS, em um esquema que pode envolver bilhões de reais. A informação foi divulgada pelo portal Metrópoles.
O Sindnapi, que tem entre seus dirigentes Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é apontado como um dos principais beneficiários de um modelo de filiação automática relacionado ao crédito consignado. Essa prática, segundo especialistas, pode caracterizar uma forma de venda casada, ao condicionar a liberação de empréstimos à adesão ao sindicato, com descontos mensais diretamente no benefício do INSS.
De acordo com auditores do TCU, aproximadamente meio milhão de novas filiações ao Sindnapi foram registradas em 2023, com os descontos iniciados pouco tempo depois da assinatura de contratos de crédito consignado. A coincidência entre essas duas ações tem gerado preocupações nos órgãos de controle, que agora investigam a origem desse crescimento explosivo na arrecadação e os critérios adotados para essas filiações.
Embora o TCU tenha identificado inconsistências no processo, a entidade ainda não recebeu recomendações formais ou sanções sobre a prática. O caso foi, no entanto, incluído no inquérito da Polícia Federal, que busca entender se aposentados foram enganados ou induzidos a autorizar os descontos.
Em sua defesa, o Sindnapi tem apresentado gravações e vídeos que mostram aposentados concordando com a filiação ao sindicato. Em um dos vídeos, uma beneficiária afirma: “Eu concordo em me associar ao Sindnapi, com desconto de 2,5% do valor do meu benefício.” No entanto, advogados de aposentados questionam essas gravações, argumentando que muitos beneficiários foram levados a acreditar que a filiação era um requisito obrigatório para a obtenção de empréstimos consignados.
A entidade mantém uma agência bancária dentro de sua sede em São Paulo e parcerias com instituições financeiras, o que intensifica a suspeita de que exista uma articulação entre a concessão de crédito e a adesão sindical. A prática tem gerado um crescente desconforto entre especialistas e controladores financeiros, que veem na falta de transparência um fator crítico para a investigação.
Sob a liderança de Milton Cavalo, aliado do atual ministro da Previdência, Carlos Lupi, o Sindnapi tem fortalecido sua influência, especialmente desde sua reestruturação em 2021. Originalmente vinculado à Força Sindical, o sindicato agora opera com forte presença de figuras do PDT e do governo federal. Apesar da fundação de Paulinho da Força, ex-deputado e presidente de honra da entidade, a gestão do sindicato está a cargo de Milton Cavalo, com o ex-metalúrgico Frei Chico atuando como vice-presidente.
O grande questionamento que se impõe diante deste caso é a razão do aumento tão substancial na receita do sindicato, especialmente sem uma expansão clara de suas atividades ou serviços. Seria este crescimento fruto de filiações legítimas ou o reflexo de um sistema orquestrado de indução? A investigação continua, e as respostas podem definir o futuro do Sindnapi e das práticas de filiação sindical no Brasil.