Por José Rodrigues Rocha Junior
Vivemos dias difíceis, alguns até apostam que estamos vivendo em uma guerra econômica mundial.
O primeiro personagem dessa história dispensa apresentação. Donald John Trump é um empresário, personalidade televisiva e político americano. Filiado ao Partido Republicano, é o atual presidente dos Estados Unidos.
A guerra comercial teve data para começar: 2 de abril, chamado pelo republicano como “Dia da Libertação”. O presidente dos EUA definiu a data como um “dia histórico para a América” e afirmou que as medidas farão o país “rico novamente”.
Por exemplo, a diferença entre o valor que os Estados Unidos importam da China e o que exportam para o país asiático é de US$ 295 bilhões. O total das importações provenientes da China soma US$ 440 bilhões (aproximadamente R$ 2,46 trilhões).
No discurso oficial, o tarifaço busca promover a economia norte-americana por meio de investimentos privados em novas fábricas e tecnologias. Com isso, a população local terá acesso a mais oportunidades de emprego e renda.
O maior parceiro comercial da China, tanto em termos de exportações como de importações, são os Estados Unidos. Na data de hoje, Pequim permaneceu impassível diante das propostas. Em vez disso, exigiu que Trump remova todas as tarifas sobre a China. “Como diz o ditado: ‘quem amarrou o sino deve desamarrá-lo'”, disse He Yadong, porta-voz do Ministério do Comércio da China, a repórteres na quinta-feira (24).
Muitos grandes bancos de investimento previram que as tarifas massivas, assim como as tarifas retaliatórias de 125% da China sobre produtos americanos, mergulhariam as economias dos EUA e global em uma recessão.
E embora o presidente não tenha quantificado o que significa por um corte substancial de tarifas, um alto funcionário da Casa Branca disse separadamente ao Wall Street Journal que as atuais tarifas de 145% sobre a China poderiam cair para “entre aproximadamente 50% e 65%.”
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos acentuou a concorrência no agronegócio entre Brasil e Estados Unidos.
Com a troca de retaliações entre os países, o Brasil pode se favorecer do redirecionamento da demanda chinesa de soja e milho.
A tendência é o Brasil ocupar mais espaço no fornecimento de grãos ao mercado asiático, se confirmada uma escalada do conflito comercial sino-americano, pelo menos no curto prazo.
“Hoje exportamos 64% de soja, carne, algodão e milho para a China, enquanto os Estados Unidos exportam 34%. Portanto, os ganhos não seriam tão grandes como foram na primeira fase da guerra comercial, mas pode haver benefícios no curto e médio prazo”, avalia o coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank.
Na avaliação da diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, o Brasil tem condições de ampliar o fornecimento de alimentos para a China e demais destinos, seja a demanda adicional gerada por uma guerra comercial ou por questões climáticas adversas.
Agora é hora de falar da segunda personagem dessa história. Quem é Justina Ferreira?
Justina Ferreira, foi homenageada por uma produção audiovisual que foi lançada quando a homenageada completou 65 anos de vida (2021). “As mãos Beneditas de Justina”, essa produção audiovisual conta com a participação da comunidade Ribeirão do Mutuca no Quilombo Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento. Lugar este que Justina vive e pertence.
Muito mais do que a história de vida desta guardiã dos conhecimentos, os produtos culturais narram o grito de resistência da comunidade, diante de todas as tentativas de massacre físico e cultural vivenciados por eles no decorrer dos tempos. Os relatos da própria Justina e dos moradores da comunidade, são um misto de reconhecimento à essa Mestre da Cultura de Mato Grosso, a luta pela terra e sobrevivência dos aprendizados deixados pelos antepassados.
Essa mulher guerreira e quilombola, está sendo impactada pelas decisões do Trump? A resposta é sim, não só ela, como todos nós.
Quando a exportação de grãos do Brasil aumenta, o preço dos grãos no mercado interno tende a ser pressionado por fatores que podem ser positivos ou negativos. A desvalorização do real frente ao dólar, por exemplo, pode encarecer a produção e aumentar a competitividade das exportações, o que pode levar os produtores a priorizarem o mercado externo, reduzindo a oferta para o mercado interno e, consequentemente, aumentando os preços.
Todos nós conhecemos a lei da oferta e da procura. Com o aumento das exportações, os produtos ficarão mais escassos no país, gerando aumento dos preços e a consequente inflação.
A inflação acumulada em doze meses aumentou de 4,9% em novembro para 5,1% em fevereiro, mais do que o que era esperado três meses atrás. Os núcleos de inflação também estão mais altos.
O aumento dos alimentos não é algo pontual. Na verdade, ele tem se tornado cada vez mais persistente, principalmente depois que o setor agropecuário brasileiro resolveu voltar seus esforços para a exportação, reduzindo a produção de itens consumidos internamente.
“A causa básica do aumento dos produtos alimentícios é que passamos a exportar muito, especialmente neste século”, disse José Giacomo Baccarin, professor de economia e política agrícola da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e diretor do Instituto Fome Zero (IFZ).
O avanço das lavouras de soja no país e a redução das de feijão são exemplos da dinâmica que afeta o preço da comida no Brasil.
O Brasil é o maior produtor de soja do mundo. Entretanto, cerca de 65% do que é colhido não alimenta ninguém no país. Vai para exportação.
O plantio de soja se disseminou no país nos últimos 30 anos. As lavouras do grão, que ocupavam 10,6 milhões de hectares em 1993, passaram a ocupar 44,6 milhões de hectares em 2023, segundo o IBGE. Tudo isso pensando em atender uma demanda externa.
No Brasil, a soja é utilizada para produzir uma ampla variedade de produtos, incluindo alimentos, óleos vegetais, ração animal, biodiesel e insumos para diversas indústrias.
Então, resumindo a conversa, as decisões do Trump aumentaram o preço do óleo de cozinha para a Senhora Justina Ferreira, mas não só para ela, mas para os 212,6 milhões de habitantes do Brasil.
Mais uma vez as grandes potências brigam e quem arca com as consequências são os mais pobres. Como diz o velho adágio popular: “Na briga do rochedo com o mar, quem sai perdendo é o marisco.”
*José Rodrigues Rocha Junior, Advogado, pós-graduado em direito constitucional, Jornalista, Empresário, Escritor, Palestrante, Consultor e Conferencista.