Na manhã desta sexta-feira (27), a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da Operação Sisamnes, que apura um esquema de corrupção envolvendo a venda de sentenças judiciais e o repasse de informações sigilosas de tribunais superiores. De acordo com as investigações, a organização criminosa contava com o apoio de operadores infiltrados no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para beneficiar aliados políticos e empresários. Entre os alvos está o prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), além de um advogado e um policial, que também foram presos.
As medidas cumpridas nesta sexta foram autorizadas pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e se concentram na cidade de Palmas, capital do Tocantins. A investigação foca no suposto vazamento de informações sigilosas relacionadas a processos em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em um desdobramento das apurações sobre a venda de sentenças judiciais.
Segundo a Polícia Federal, há indícios de que dados confidenciais estavam sendo acessados de forma antecipada e repassados a investigados, com a participação de agentes públicos, advogados e operadores externos. Essas informações teriam sido usadas para proteger aliados políticos, frustrar ações policiais e ampliar redes de influência.
Um dos exemplos citados pela PF envolve o prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), preso nesta etapa da operação. Em mensagens interceptadas durante a investigação, ele afirma ter recebido informações sigilosas diretamente de um ministro do STJ, antes mesmo da deflagração de uma operação da Polícia Federal em 2010.
No diálogo, registrado em troca de mensagens com o advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho — sobrinho do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos) —, Siqueira Campos relata que o ministro João Otávio de Noronha teria o alertado pessoalmente: “Esse Noronha, há 15 ou 18 anos, me chamou em Brasília e falou: ‘Siqueira, só para avisar ao teu pai que vão ser afastados quatro desembargadores’.”
A PF aponta esse tipo de relato como um indício de que o esquema de vazamento de informações no STJ pode ser mais antigo e enraizado do que inicialmente se imaginava.
Caso lobista Andreson e Zampieri
Em maio deste ano, a Operação Sisamnes teve como alvo Diego Cavalcante, apontado como operador financeiro do esquema de venda de decisões judiciais liderado pelo lobista Andreson Gonçalves. Segundo a Polícia Federal, Diego teria recebido transferências bancárias que somam R$ 6,5 milhões de uma empresa ligada ao lobista. Parte desse valor foi posteriormente sacada em espécie, o que levantou suspeitas de lavagem de dinheiro e ocultação de valores ilícitos.
As investigações também revelaram que os envolvidos atuaram para obstruir a Justiça, especialmente durante a quinta fase da operação, deflagrada nesta mesma semana. Os investigados são acusados de adotar estratégias para dificultar o cumprimento de ordens judiciais e interferir diretamente nas ações da Polícia Federal.
Outro personagem central no caso é o advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em dezembro de 2023, em Cuiabá. De acordo com a PF, Zampieri mantinha relação próxima com integrantes da organização criminosa e participava da negociação de sentenças junto ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) e ao STJ. Após sua morte, análises de dados obtidos em seu celular reforçaram os indícios de sua participação no esquema.
Como desdobramento das apurações, três desembargadores do TJMT — João Ferreira Filho, Sebastião de Moraes e Ivan Lúcio Amarante — foram afastados de suas funções por suspeita de conceder decisões judiciais em troca de vantagens indevidas.
Até o momento, apenas o lobista Andreson Gonçalves permanece preso preventivamente. Os demais investigados estão sob monitoramento com tornozeleira eletrônica. A nova fase da operação também investiga possíveis tentativas do grupo de manipular ou obstruir as próprias investigações conduzidas pela Polícia Federal, o que pode configurar crime de obstrução de Justiça.