Um estudo apresentado na conferência Psychedelic Science, realizada em Denver, nos Estados Unidos, revelou que o sapo do deserto de Sonora (Incilius alvarius) está sob séria ameaça de extinção, impulsionada pela crescente busca pelo composto psicodélico 5-MeO-DMT, encontrado em suas secreções. A pesquisa aponta que a popularização da substância, considerada alucinógena e ilegal na maioria dos países, vem estimulando a coleta predatória do animal, além de contribuir para a destruição de seu habitat.
Apesar de ainda constar como “menos preocupante” na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os pesquisadores afirmam que o status não reflete a realidade atual. Relatos de campo e observações científicas sugerem uma queda significativa nas populações selvagens ao longo das últimas décadas.
A psicoterapeuta Anny Ortiz, autora principal do estudo e pesquisadora da Universidade de Wisconsin-Madison, critica a romantização midiática em torno do uso da substância, cuja prática foi incorretamente atribuída a rituais indígenas da região de Sonora. Segundo ela, "em pouco mais de uma década, colocamos esta espécie em risco de extinção em nome da cura e da expansão da consciência".
Com o apoio da bióloga Georgina Santos-Barrera, da Universidade Nacional Autônoma do México, a pesquisa mapeou mais de 400 sapos adultos e 2 mil jovens entre 2020 e 2024, nos estados mexicanos de Sonora e Chihuahua. O levantamento apontou não apenas o desaparecimento de populações inteiras, mas também a redução no tamanho dos indivíduos remanescentes, o que pode indicar desequilíbrios ambientais e genéticos.
Santos-Barrera alerta que o desaparecimento do sapo pode gerar um colapso ecológico local. “Sem esses predadores naturais, populações de insetos que atacam plantações crescem descontroladamente, afetando o equilíbrio da cadeia alimentar e a agricultura da região”, afirmou ao The New York Times.
O 5-MeO-DMT, conhecido por seus efeitos intensos e imediatos, passou a ser explorado comercialmente por falsos xamãs, terapeutas clandestinos e até “igrejas do sapo” nos EUA. Apesar de proibido no país por ser classificado como substância controlada de Classe I, algumas organizações conseguiram autorização judicial para utilizá-lo sob a justificativa de liberdade religiosa.
Ortiz defende a substituição do composto natural por versões sintéticas, que já podem ser obtidas por meio de outras plantas. Segundo ela, não há qualquer comprovação de que as secreções do sapo tenham componentes adicionais benéficos — pelo contrário, muitas das substâncias presentes são tóxicas ao coração e não têm qualquer efeito terapêutico.
As autoras pretendem submeter os dados à IUCN e pressionar autoridades dos Estados Unidos e do México a reclassificarem a espécie como ameaçada. O objetivo é garantir proteção legal aos sapos do deserto de Sonora e conter a exploração motivada pelo uso indiscriminado do 5-MeO-DMT.
“É hora de desfazer mitos e colocar a conservação da vida selvagem acima de modismos espirituais”, conclui Ortiz.