Setenta e oito dias após serem afastados dos cargos, os vereadores de Cuiabá, Sargento Joelson (PSB) e Chico 2000 (PL), ainda não foram ouvidos pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) no inquérito que investiga o suposto pagamento de propina de R$ 250 mil, apurado na Operação Perfídia.
A investigação aponta que ambos teriam articulado a cobrança para votar favoravelmente a um projeto de interesse da empresa HB 20 Construções em 2023.
O afastamento de 180 dias foi determinado pela juíza Edna Erdeli Coutinho, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), em decisão que também os proibiu de frequentar a sede da Câmara Municipal.
Apesar da gravidade das acusações e do tempo afastados, os parlamentares seguem recebendo salários integrais de R$ 26 mil. Inicialmente suspensos pela Mesa Diretora da Câmara, os pagamentos foram restabelecidos por decisão judicial.
A Justiça acatou os argumentos do Ministério Público do Estado (MPMT), que considerou a suspensão uma medida abusiva, afirmando que não cabe sanção patrimonial antes do trânsito em julgado da ação penal.
Enquanto a investigação segue sem o depoimento dos investigados, suas cadeiras seguem ocupadas por suplentes. Gustavo Padilha (PSB) assumiu a vaga de Joelson desde maio.
A cadeira de Chico 2000 passou pelo suplente Rafael Yonekubo e, desde a semana passada, está nas mãos de Fellipe Corrêa (PL), ex-secretário de Agricultura e Trabalho da gestão do prefeito Abilio Brunini.
Mesmo diante das acusações e do inquérito em andamento, nenhum processo de cassação ou quebra de decoro parlamentar foi instaurado. Um pedido protocolado pelo ex-juiz Julier Sebastião (PT) foi rejeitado pela Mesa Diretora.
As investigações revelam que a empresa HB 20 Construções teria repassado R$ 150 mil via PIX para um intermediário indicado por Joelson, como parte da propina combinada para que os vereadores viabilizassem a aprovação de uma certidão que permitiria o parcelamento de dívidas tributárias pela Prefeitura de Cuiabá. Com isso, a empresa conseguiu receber pagamentos de R$ 4,8 milhões referentes a obras na Avenida Contorno Leste.
O funcionário da empreiteira, João Jorge Souza Catalan Mesquita, confirmou à Deccor ter intermediado os pagamentos e apresentou mensagens trocadas com Joelson via WhatsApp como prova. Segundo a decisão judicial que autorizou a operação, há também áudios e registros de encontros na sede da Câmara que corroboram a denúncia.
Chico 2000 nega envolvimento nas tratativas. Já Sargento Joelson não comentou as mensagens e diz ser vítima de perseguição política.