O Ibovespa acumula uma alta de quase 12% em 2025, impulsionado pelo movimento global de aversão ao risco em meio à guerra tarifária entre Estados Unidos e seus parceiros comerciais. Mas, por trás desse avanço, esconde-se um detalhe pouco comentado: a maior parte das ações que compõem o principal índice da Bolsa brasileira não acompanha esse ritmo.
Levantamento da Economatica, feito a pedido do InfoMoney, revela que, das 87 ações presentes no Ibovespa, apenas 40 superaram o desempenho do índice no acumulado de um ano. E mesmo entre essas vencedoras, são poucas as que registraram ganhos realmente expressivos. Esse comportamento não é novidade e se repete em prazos mais longos — de três, cinco, 10, 15 e até 20 anos.
“Historicamente, uma pequena minoria das ações é responsável por quase todo o retorno positivo do mercado. A maioria acaba ficando estagnada, sendo adquirida ou até quebrando ao longo do tempo”, explica Rogério Lobo, professor de finanças do curso de Administração da ESPM.
Segundo ele, o Ibovespa carrega um viés de sobrevivência. Por ser formado pelas empresas mais líquidas e com maior valor de mercado, o índice exclui da conta aquelas companhias que quebram ou deixam de atender aos critérios para compor a carteira. Isso significa que o índice reflete apenas as sobreviventes e vencedoras do momento.
“Por isso, quando olhamos para os índices, vemos um movimento puxado principalmente por poucos vencedores, enquanto muitas empresas individuais geram prejuízos ou retornos medianos. Esse padrão não é exclusividade do Brasil e também aparece nos mercados dos Estados Unidos e de outras economias”, afirma Lobo.
Esse comportamento foi detalhado em estudo global do professor Hendrik Bessembinder, da Arizona State University. Analisando os retornos de 64 mil ações globais — incluindo 387 brasileiras — entre 1990 e 2020, o pesquisador constatou que menos da metade entregou retornos positivos no período. Mais impressionante: apenas 2,4% das empresas foram responsáveis por toda a criação líquida de riqueza no mercado de ações global, acumulando US$ 75,7 trilhões.
Ações que consistentemente superaram o Ibovespa
Mas, afinal, quem são essas ações locais que conseguiram, ano após ano, bater o Ibovespa? A lista inclui nomes que se destacaram pela consistência de resultados, solidez financeira e posição competitiva, mas também serve de alerta.
“Embora olhar o histórico possa ajudar a entender a resiliência da empresa em diferentes cenários, ele não diz tudo — e, muitas vezes, diz até pouco. O que realmente importa são os fundamentos atuais e as perspectivas futuras: capacidade de geração de caixa, posição no setor, qualidade da gestão, nível de endividamento e, claro, o preço pago pela ação”, alerta Ricardo Schweitzer, sócio-fundador da Garoa Wealth Management.
Para investidores, a mensagem é clara: não basta acompanhar o índice ou se empolgar com o desempenho passado de um papel. Num mercado onde poucas ações concentram os ganhos e muitas ficam pelo caminho, avaliar com profundidade os fundamentos de cada empresa segue essencial para evitar armadilhas e construir retornos sustentáveis.