Em artigo recente, a jornalista e escritora Madeleine Rose Déa Maria de Freitas Lacsko levanta um ponto espinhoso dentro da estrutura do governo federal: o papel não oficial, mas altamente visível, da socióloga Rosângela da Silva, a Janja, esposa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto, publicado nas redes e veículos onde Lacsko colabora, questiona a legitimidade e os impactos da atuação de Janja como representante do governo sem ocupar qualquer cargo formal na administração pública.
"Antes de regulamentar redes sociais a pedido de Janja, Lula deveria começar regulamentando a Janja", dispara Madeleine logo no início. Segundo ela, a primeira-dama atua sem nomeação, sem responsabilidade formal e sem mecanismos de prestação de contas — o que caracteriza uma espécie de “gambiarra institucional”.
Visibilidade sem responsabilidade
Lacsko aponta que o protagonismo de Janja nas viagens oficiais, eventos e até em pautas internacionais como a regulamentação das redes sociais, não é acompanhado pelo ônus da responsabilidade pública. Para a jornalista, isso permite à primeira-dama acumular visibilidade sem ser cobrada por seus atos — um cenário que, segundo ela, contraria o princípio de impessoalidade que deve reger a administração pública.
“Ao invés de protagonismo feminino, o que vemos é a ausência de protocolo”, afirma, destacando o improviso como método de gestão e o personalismo como política. A crítica mira, sobretudo, o contraste entre a tentativa do governo em impor regras à sociedade e sua própria incapacidade de seguir normas básicas de organização interna.
Caso da China: um ruído diplomático
O episódio mais recente citado no artigo foi a viagem à China, onde Janja teria quebrado protocolos ao abordar diretamente temas sensíveis com o presidente Xi Jinping, incluindo críticas ao TikTok — rede social de origem chinesa — por, segundo ela, privilegiar conteúdos de extrema-direita.
Madeleine ressalta que a cultura chinesa exige respeito a códigos diplomáticos rígidos e que o comportamento de Janja gerou constrangimento. “Lá, o que aqui parece cena patética é desrespeito institucional grave”, analisa.
Crítica à pauta da regulamentação
A crítica mais contundente surge quando Madeleine aponta uma contradição entre o discurso e a prática do governo. Para ela, tentar regulamentar redes sociais enquanto se mantém figuras públicas atuando informalmente dentro do governo revela uma desordem estrutural que fragiliza a credibilidade da administração.
O modelo de regulamentação citado como referência por Janja — o chinês — é também alvo da crítica de Madeleine. Ela lembra que, na China, críticas ao governo podem acarretar consequências severas, como restrições de viagem ou de acesso à educação para os filhos.
Conclusão: o Brasil da improvisação
O artigo termina com uma provocação: “Querem regulamentar redes sociais? Antes disso, por favor, regulamentem a Janja.” Para Madeleine, o Brasil caminha para um modelo de governo onde “improviso, personalização e bajulação tomam o lugar do serviço público sério”.
A análise de Lacsko escancara um debate cada vez mais presente: onde termina o papel simbólico da primeira-dama e onde começa a responsabilidade institucional? A resposta, por ora, continua no terreno das opiniões. Mas o desconforto, cada vez mais evidente, exige discussão pública — e transparente.