Duas mulheres, de 21 e 44 anos, denunciaram à Polícia Civil de Mato Grosso do Sul terem sido vítimas de tortura e ameaças durante um ritual espiritual realizado entre a noite de quarta-feira (16) e a madrugada de quinta-feira (17), em um terreiro no Jardim Nhanhá, bairro de Campo Grande (MS). O responsável pelo local, um pai de santo de 40 anos, foi apontado como o autor das agressões.
Segundo o boletim de ocorrência registrado na última terça-feira (22), o ritual contava com a participação de sete mulheres, todas filhas de santo da casa. Durante a cerimônia, o líder espiritual anunciou ter incorporado uma entidade chamada "João Mulambo" e, sob esse pretexto, teria iniciado uma série de práticas abusivas, que, conforme as vítimas, não fazem parte dos fundamentos religiosos do culto.
Relatos apontam que as participantes foram proibidas de se sentar por cerca de duas horas. Em seguida, uma garrafa de cachaça foi passada entre elas, sob ordens para que todas ingerissem a bebida. Duas das mulheres foram forçadas a permanecer ajoelhadas por mais de uma hora segurando velas acesas, sofrendo queimaduras e humilhações verbais.
As vítimas alegam que, embora reconheçam que certos elementos estejam presentes em rituais de matriz africana, o uso de coerção, violência física e psicológica extrapola qualquer prática espiritual legítima. “Não foi um ritual, foi tortura”, declarou uma das mulheres ao registrar a denúncia.
O caso está sendo investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), que deve ouvir outras participantes nos próximos dias. A polícia também estuda solicitar medidas cautelares contra o acusado, que ainda não foi preso.
Especialistas em religiões afro-brasileiras reforçam que tais práticas não fazem parte dos ensinamentos do Candomblé ou da Umbanda, e que o uso da fé para justificar violência deve ser combatido com rigor. O Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e entidades religiosas devem acompanhar o caso.
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