Um esquema sofisticado de compra de sentenças judiciais envolvendo doleiros, boletos bancários falsificados e transferências milionárias está no centro de uma investigação da Polícia Federal que abrange tribunais de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e até o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A operação, que se desenrola com intensidade desde a semana passada, colocou no radar nomes de peso como o lobista Andreson Gonçalves e o advogado Roberto Zampieri.
A PF sustenta que os investigados movimentaram milhões de reais por meio de métodos clandestinos de lavagem de dinheiro. Um dos principais operadores identificados é João Batista, auxiliar de serviços gerais de Andreson, que aparece como beneficiário de R$ 2,6 milhões entre 2019 e 2023.
Desses valores, R$ 800 mil teriam sido sacados em espécie apenas entre 2020 e 2021, o que levantou fortes suspeitas de que João Batista atuava como laranja no esquema. Apesar da ordem de busca e apreensão, ele não foi localizado até agora.
Além das movimentações financeiras de Batista, a investigação também descobriu que o grupo recorria a um doleiro baseado em São Paulo para disfarçar o caminho do dinheiro ilícito.
Boletos bancários falsos e faturas forjadas de cartão de crédito teriam sido usados para camuflar o pagamento de propinas e viabilizar vantagens indevidas.
As autoridades tentam agora identificar se os repasses coincidem com gastos pessoais de assessores do STJ. Um deles é Márcio Toledo Pinto, ex-assessor nos gabinetes das ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi.
A empresa em nome de sua esposa recebeu R$ 4 milhões de uma firma ligada a Andreson Gonçalves, o que, segundo a PF, pode configurar repasse disfarçado de propina.
A defesa de Márcio não respondeu aos contatos, enquanto as magistradas informaram que não comentam atos praticados por terceiros que estejam sob investigação.
O STJ afirmou que já tomou medidas internas e que colabora com as investigações, destacando que nenhum ministro está entre os alvos. O caso reforça o alerta para os mecanismos de corrupção que ainda persistem, mesmo nos níveis mais elevados do sistema judicial brasileiro.