Neste domingo, 20 de julho, o Brasil perdeu um de seus maiores símbolos de irreverência, força e autenticidade: Preta Gil, filha do mestre Gilberto Gil, mulher de múltiplos talentos e causas. Cantora, compositora, empresária e, sobretudo, um furacão de emoções e verdades, ela partiu aos 50 anos, em Nova York, onde enfrentava com dignidade e fé um agressivo câncer colorretal.
Preta não foi apenas uma artista. Foi uma revolução. Em cada palco, em cada entrevista, em cada post nas redes sociais, ela foi mulher negra, foi gorda com orgulho, foi voz da liberdade de amar, foi política do afeto. Ergueu bandeiras que nem sempre quiseram ver hasteadas. Lutou contra o racismo, contra a gordofobia, pela visibilidade LGBTQIA+ e pelos direitos das mulheres com a coragem de quem sempre foi muito mais do que filha de Gil.
Quem conviveu com ela, mesmo que à distância, sentia sua presença arrebatadora. Tinha o riso largo, a lágrima fácil, o coração gigante. E uma alegria de viver que desafiava o tempo, as dores e os diagnósticos.
Preta era dessas almas que não passam despercebidas. Comandava o “Bloco da Preta” como quem lidera uma tropa de amor no meio do Carnaval. Lançava moda, músicas, tendências e inspirações. Tornava-se íntima de todos com sua fala aberta, sua sensualidade sem moldura e sua espiritualidade vibrante.
Na dor do tratamento, jamais se escondeu. Mostrou o real, o duro, o frágil. E também o forte. Compartilhava cada fase como uma carta de amor à vida — para que outras mulheres, outras pessoas, não se sentissem sozinhas.
Preta foi estrela de um tempo onde ser verdadeira é ato de coragem. E ela foi valente até o fim.
Ela parte, mas deixa um legado de luz, de transformação e de presença. Fica o som da sua risada, o ritmo da sua voz, a força do seu nome.
Fica o exemplo de quem ousou amar a si mesma em voz alta.
Fica Preta.
Para sempre Preta.