Neste domingo (1º de junho), o Brasil celebra o Dia Nacional do Vinho, uma data que vai muito além de uma taça bem servida. Criada por lei federal em 2017, a efeméride homenageia o valor cultural, econômico e histórico do vinho nacional, reconhecendo o papel transformador da vitivinicultura no agronegócio, no turismo e no empreendedorismo brasileiro — e, em especial, no protagonismo crescente das mulheres em todas as etapas da cadeia produtiva.
Em Mato Grosso, longe dos tradicionais terroirs da Serra Gaúcha ou do Vale do São Francisco, uma revolução silenciosa está em curso. Mulheres como Jane Nezzi, Fabiana Lourenço, Márcia Maria e Alessandra Nery vêm liderando ações, cursos e degustações que inserem o estado na rota do vinho nacional, com impacto direto na formação de novos consumidores, no fomento ao empreendedorismo e na construção de uma cultura vinícola local.
Jane Nezzi é jornalista, sommelière e vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers – Seção Mato Grosso (ABSMT). Ao lado de Fabiana Lourenço, sommelière do Comper, ela vem ministrando cursos de introdução ao mundo do vinho, democratizando o acesso ao conhecimento e ajudando a desconstruir a ideia de que o vinho é elitista ou inacessível. As aulas, realizadas em parceria com redes comerciais e projetos independentes, já alcançaram dezenas de novos apreciadores da bebida no estado.
Outra referência feminina é Márcia Maria, que além de sommelière de vinhos é também especialista em cervejas. Seu trabalho tem sido essencial na criação de pontes entre os mundos das bebidas artesanais, ampliando horizontes e unindo paladares em torno da educação sensorial e do consumo consciente.
Márcia relembra como tudo começou, ela destaca a infância, no sítio dos seus avós paterno, a avó cultivava pés de café e o avô bebia vinho de garrafão, então essas lembranças marcantes de aromas e sabores fixaram na mente. Anos depois junto com a amiga Alessandra Nery começaram a vender vinhos, mas o diferencial que era vinhos em latas, e as duas foram a pioneiras no MT com essa novidade. Nesse caminho me despertou a vontade de fazer o curso a convite da Alessandra que já era Sommelier de vinho, “nós duas fizemos o curso de cerveja, finalizamos e voltamos com novas idéias, não só de vender vinhos em latas como também de garrafas, mas o melhor de tudo foi a de trazer a ABS para Cuiabá, com muita trabalho e dedicação, juntamente com a parceira Jane Nezzi conseguimos a abertura da ABS-MT. Iniciaram-se o curso profissionalizante e me formei também Sommelier de vinho nessa primeira turma 2023 pela ABS-MT”, relembrou.
Em comum, essas mulheres compartilham mais que o amor pela uva fermentada: elas acreditam na potência transformadora da cultura do vinho — seja para quem serve, produz ou consome.
De pioneira a presidente
A trajetória da sommelière Alessandra Nery é exemplo de ousadia e pioneirismo. Fundadora da Syrah Vinhos, loja e espaço enogastronômico em Cuiabá, Alessandra é hoje presidente da ABS-MT e uma das articuladoras da cena vitivinícola no Centro-Oeste. Além de selecionar rótulos e promover experiências, ela criou a coluna “Entre Vinhos e Tintos”, onde divulga semanalmente conteúdos educativos e culturais sobre o universo da bebida.
Com sua liderança, a ABS-MT fortaleceu parcerias e ajudou a colocar o vinho na mesa do consumidor comum — não como artigo de luxo, mas como expressão da agricultura nacional e da diversidade brasileira.
Solo fértil
O protagonismo feminino no vinho em Mato Grosso se conecta também com iniciativas familiares e sustentáveis. É o caso da Locanda do Vale, projeto idealizado por Luiz César Lino de Oliveira e Rachel Guimarães Molina, respectivamente engenheiro agrônomo e engenheira civil. O casal decidiu investir na produção de uvas viníferas em uma propriedade de dez hectares em Chapada dos Guimarães.
Reprodução rede social

Locanda do Vale, projeto idealizado por Luiz César Lino de Oliveira e Rachel Guimarães Molina
Com quatro hectares de parreiras e sete variedades entre tintas e brancas, eles apostam em um modelo de vitivinicultura sustentável, usando o relevo natural da região para implantar um sistema de captação e armazenamento de água da chuva, que irriga as vinhas no período de estiagem. A experiência, além de inovadora, reforça o potencial turístico e ecológico da região.
O vinho no agro
De acordo com o Consevitis-RS, o setor vitivinícola brasileiro movimenta mais de R$ 7 bilhões por ano, gera mais de 25 mil empregos diretos e fortalece o turismo rural. O levantamento mais recente do Instituto MDA Pesquisas, realizado com apoio do Sebrae Nacional, mostrou que 70% dos brasileiros entrevistados consumiram vinho nacional nos últimos seis meses, com destaque para jovens mulheres com ensino superior, renda média-alta e forte identificação com o produto nacional.
Segundo dados adicionais do Sebrae, divulgados em maio de 2025, o consumo per capita de vinho no Brasil cresceu de 1,8 litro em 2019 para 2,7 litros em 2022, com um aumento expressivo de 18% em 2020, impulsionado principalmente pelo e-commerce durante a pandemia. O perfil do consumidor brasileiro segue tendências de maior escolaridade, renda média ou alta, e preferência expressiva entre o público feminino. O protagonismo do vinho brasileiro entre os consumidores nacionais tem crescido, com pesquisas indicando que 70% dos brasileiros consomem vinhos brasileiros.
O Sebrae também destaca a importância do marketing digital como um desafio central para produtores e comerciantes, especialmente diante do crescimento dos custos nas plataformas tradicionais. A instituição observa ainda novas tendências, como o aumento da procura por vinhos nacionais diferenciados e produtos com identidade regional, além de promover a educação sobre a linguagem do vinho, dicas de escolha e harmonização, e o estímulo ao consumo responsável, com informações sobre o metabolismo do álcool e limites adequados para o consumo.
Uma cultura que se planta, se serve e se compartilha
A celebração do Dia do Vinho Brasileiro é, acima de tudo, uma homenagem ao esforço de milhares de produtores, sommeliers, professores, comerciantes e agricultores que veem na uva fermentada mais que uma bebida: veem história, identidade e oportunidade.
Em Mato Grosso, esse movimento tem cada vez mais voz feminina, tintos intensos, brancos delicados e sonhos cultivados em solo fértil.
E se o vinho brasileiro ainda busca mais reconhecimento, uma coisa já está clara: a colheita será farta — e as taças, cada vez mais cheias de propósito.
Consumo
O consumo de vinho em Mato Grosso (MT) tem demonstrado um crescimento, refletindo uma tendência nacional. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pesquisas de mercado indicam que o consumo de vinho, e especialmente o de vinhos brancos e rosés, tem aumentado em diversas regiões do Brasil, incluindo Cuiabá.
Tendências e Fatores:
• Aumento no consumo:
O consumo médio per capita de vinho no Brasil tem aumentado, com projeções de crescimento para os próximos anos segundo a Exame.
• Preferência por vinhos brancos e rosés:
A demanda por vinhos brancos e rosés tem crescido, com vinhos brancos representando 26% do consumo em 2024 e vinhos rosés com um crescimento significativo, dobrando de participação.
• Mundo em queda:
A tendência global é de queda no consumo de vinho, com o Brasil se destacando como um mercado em crescimento.
• Cuiabá:
A cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso, tem demonstrado um aumento no consumo de vinho, com os estabelecimentos registrando crescimento nas vendas.
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O consumo de vinho em Mato Grosso, assim como no Brasil, está em crescimento, com a preferência por vinhos brancos e rosés em alta. A pandemia e as mudanças nos hábitos de consumo têm influenciado esse crescimento.
Fontes:
• Infoteca Embrapa: Relatórios e pesquisas sobre a vitivinicultura brasileira.
• Sebrae
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Márcia Maria de Almeida 02/06/2025
Essa bebida milenar vem crescendo cada vez mais aqui em Mato Grosso, com isso a busca pelo aprendizado também, isso é muito bom saber que as pessoas estão vendo no vinho que não é uma bebida elitizada e sim para todas e qualquer pessoas que gostam de degustar a bebida.
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