A Polícia Federal investiga a ligação de um grupo paramilitar na morte de Marcelo da Silva, braço-direito do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023.
A nova linha de investigação aponta que o mesmo grupo, conhecido como Comando C4, pode estar por trás desse segundo homicídio, ocorrido meses antes, no interior do Mato Grosso.
Marcelo da Silva foi encontrado carbonizado dentro de uma caminhonete incendiada entre as cidades de Querência e Ribeirão Cascalheira, em junho de 2023.
Na mesma data do seu desaparecimento, há registros de que a esposa do produtor rural Anibal Manoel Laurindo comprou passagens aéreas para o coronel reformado do Exército, Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, viajar até Cuiabá.
A Polícia Federal acredita que essa movimentação pode estar diretamente relacionada ao crime.
O Comando C4, autodenominado “Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos”, já estava sob investigação na sétima fase da Operação Sisamnes, autorizada pelo ministro do STF Cristiano Zanin. Esse grupo é acusado de executar Zampieri com dez tiros, quando ele estava dentro do seu carro, em frente ao próprio escritório.
No celular do advogado assassinado, foram encontradas mensagens comprometedoras com lobistas, empresários e até desembargadores, que revelariam um esquema de venda de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A Polícia Federal classifica o Comando C4 como uma organização criminosa especializada em espionagem, homicídios sob encomenda e monitoramento de autoridades.
Nas buscas na residência do coronel Caçadini, foram localizadas listas de preços para serviços de vigilância, além de anotações que citavam autoridades, incluindo o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Embora a Polícia Civil de Mato Grosso também investigue a morte de Marcelo, com suspeitas que incluem policiais militares e possíveis motivações ligadas a disputas por terras e dívidas, a Polícia Federal reforça a tese de que o crime pode ter conexão direta com as ações do Comando C4.
Os advogados de defesa de Caçadini, Sarah Quinetti, Ronaldo Lara e Sérgio Figueiredo, afirmaram que não tiveram acesso aos autos e negaram qualquer envolvimento do coronel com outros homicídios, declarando confiar nas instituições e no Estado democrático de Direito.
A defesa de Anibal, por sua vez, não se manifestou, alegando segredo de justiça.
As investigações revelaram ainda que os membros do C4 discutiam abertamente sobre a identidade do grupo, elaborando nomes, logotipos e até se autointitulando milicianos.
As conversas interceptadas mostram que outros alvos também estavam sob vigilância, e que os integrantes celebravam a entrada de novos membros, descrevendo um deles como “uma máquina de matar” e uma “excelente aquisição ao pelotão”.
Na mais recente operação, no final de maio, o ministro Cristiano Zanin autorizou cinco prisões preventivas, incluindo Caçadini e Anibal, além de buscas e apreensões.
As investigações seguem sob sigilo, buscando esclarecer se há mais crimes ligados a essa organização.