O mercado de apostas esportivas no Brasil passou por um crescimento exponencial nos últimos anos. Segundo uma pesquisa recente realizada pela fintech Klavi, 30% dos brasileiros com contas em bancos já buscaram empréstimos nos últimos 12 meses para financiar suas apostas. Esse dado levanta uma bandeira vermelha sobre o aumento do endividamento da população.
A empresa Klavi analisou o comportamento de crédito de cinco mil clientes em todo o território nacional, utilizando dados anônimos obtidos por meio do Open Finance. O estudo revelou um perfil variado de apostadores, com gastos médios de R$ 1.113,09 por indivíduo, mas com algumas pessoas desembolsando valores acima de R$ 50 mil.
Empresas de apostas foram autorizadas a operar no Brasil em 2018 durante o governo de Michel Temer. Desde então, a quantidade dessas empresas proliferou, alcançando cerca de 2 mil em funcionamento. No entanto, esse número deve cair significativamente a partir de outubro de 2023, quando as empresas que não regularizaram sua situação serão proibidas de operar.
Estima-se que o mercado de apostas já movimente cerca de R$ 100 bilhões, representando quase 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Isso, obviamente, tira dinheiro do consumo geral e tem um impacto direto no desempenho do varejo doméstico. Segundo Bruno Chan, presidente e fundador da Klavi, a demanda por informações acerca do impacto das apostas é crescente entre grandes bancos e financeiras.
Quem São os Apostadores?
De acordo com o levantamento da Klavi, a maioria dos clientes que busca crédito para apostas é composta por homens (58%), com idades variando majoritariamente entre 35 e 49 anos (47%) e 26 e 34 anos (28%). Geograficamente, 60% desses apostadores estão localizados no Sudeste do Brasil. Em termos de renda, 64% dos entrevistados ganham de um a três salários mínimos, e 40% têm empregos formais (CLT).
- 58% dos apostadores são homens.
- 47% têm entre 35 e 49 anos.
- 60% vivem na região Sudeste.
- 64% ganham de 1 a 3 salários mínimos.
O Impacto das Apostas na Economia e na Sociedade
Para Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), o crescimento dos empréstimos para financiar apostas é impulsionado pela falsa crença de que é possível multiplicar o dinheiro rapidamente. Ele destaca que as chances de um apostador ganhar contra a ‘máquina’ são ínfimas, levando muitas pessoas a se endividarem sem qualquer retorno financeiro.
Gomes acredita que a falta de educação financeira é um dos principais fatores que contribuem para o aumento da inadimplência relacionada às apostas. Ele também alerta para o encarecimento do crédito, visto que o mercado financeiro considera a inadimplência um fator crucial para precificação dos juros.
O Efeito nas Finanças Pessoais
Além da economia mais ampla, as apostas têm um impacto direto nas finanças pessoais dos brasileiros. Segundo o levantamento da Klavi, o crédito solicitado geralmente varia entre R$ 500 e R$ 4 mil, indicando uma relação preocupante entre apostas e necessidade de empréstimos.
Apostas e Programas Sociais
O impacto das apostas vai além do endividamento individual e pode afetar programas sociais, como foi revelado pelo Banco Central. Recentemente, o Banco Central divulgou que cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões via Pix para plataformas de apostas. Esse dado preocupa, pois indica que o dinheiro destinado ao bem-estar das famílias está sendo direcionado para o jogo.
A Dependência Química e Psicológica
Vicente Guimarães, presidente da VG Research, aponta que o vício em apostas não é apenas uma questão financeira, mas também um problema de saúde. Ele explica que os apostadores contumazes experimentam uma descarga de adrenalina e dopamina, o que gera dependência química. “Existem muitos programas de assistência a jogadores compulsivos justamente porque o vício é uma questão de saúde pública,” acrescenta.
Portanto, é essencial promover uma forte educação financeira que busque minimizar o impacto das apostas na vida das pessoas. A orientação deve ser no sentido de jogo zero, evitando que mais brasileiros caiam na armadilha do endividamento e vício em apostas.